INFLUÊNCIAS DAS CONSTRUÇÕES ESTEREOTIPADAS DE GÊNERO NA CARGA MENTAL DE TRABALHO DAS MULHERES

Autores

  • Fernanda Pereira Labiak Universidade Federal de Santa Catarina
  • Maria do Carmo de Lima Silva Lacerda Universidade Federal de Santa Catarina
  • Graziele Zwielewski Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.20873/2526-1487e023027

Palavras-chave:

Carga mental de trabalho, Mulheres, Sobrecarga de trabalho, Saúde mental, Gênero

Resumo

O objetivo deste estudo é compreender como a carga mental de trabalho das mulheres pode ser afetada por construções estereotipadas de gênero. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e exploratória com dados secundários, disponibilizados por uma das Gerências Regionais da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco – Brasil. Os resultados indicaram que as mulheres são maioria (72%) executando o trabalho doméstico e familiar (20 horas ou mais por semana) além de exercerem 40 horas semanais no seu trabalho na área da educação. Embora os homens e as mulheres estejam no mesmo seguimento de trabalho formal e remunerado, com quantidades de horas de trabalho similares, há uma expectativa cultural estereotipada de que são as mulheres que devem se articular para desempenhar as tarefas domésticas e os cuidados com pessoas e animais domésticos em suas residências. Aspecto que atribui especificidades diferenciadas para a carga mental de trabalho de homens e de mulheres, uma vez que o trabalho doméstico e familiar tende a não ser remunerado, não ter férias e/ou descanso, e pode produzir um estado de alerta constante, resultando para muitas mulheres o uso excessivo das funções cognitivas e intelectuais, promovendo a exaustão mental.

Biografia do Autor

Fernanda Pereira Labiak, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestra em Educação pela UFSC. MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduada em Psicologia (licenciatura, bacharelado e formação de psicóloga) pela UFU. Professora no ensino superior. Pesquisadora na área de Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo. Conselheira no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM/SC). Colaboradora na Comissão Especial de Psicologia, Justiça e Segurança Pública do Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CEPJUSP/CRP-12).

Maria do Carmo de Lima Silva Lacerda, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduada em Psicologia pela Universidade de Pernambuco (UPE) Garanhuns.  Servidora pública da Secretaria Estadual de Educação, atua como psicóloga no Núcleo de Atenção ao Servidor (NAS) na Gerência Regional de Educação da Secretaria Estadual de Educação.

Graziele Zwielewski, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda e Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Gestão Internacional pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Psicóloga pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (CESUMAR). Professora da Pós-Graduação dos cursos de Psicologia Cognitivo Comportamental e Psicologia das Organizações e do Trabalho. Autora e organizadora do Manual de Psicoterapia On-line.

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Publicado

2023-11-19

Como Citar

Labiak, F. P., Lacerda, M. do C. de L. S., & Zwielewski, G. (2023). INFLUÊNCIAS DAS CONSTRUÇÕES ESTEREOTIPADAS DE GÊNERO NA CARGA MENTAL DE TRABALHO DAS MULHERES. Trabalho (En)Cena, 8(Contínuo), e023027. https://doi.org/10.20873/2526-1487e023027

Edição

Seção

Dossiê: Fatores Humanos: Saúde e Segurança no Trabalho