“Como se fosse uma Companhia de Mineração e nós fôssemos os mineiros": O estudo do pós-graduando como trabalho precarizado e não-reconhecido
DOI:
https://doi.org/10.20873/2526-1487e024031Palavras-chave:
Trabalho, Estudantes, Pesquisadores, Academias e InstitutosResumo
O escopo deste estudo é investigar como as atividades acadêmicas de pós-graduandos de uma
instituição de pesquisa dita de excelência se entrelaçam com injunções paradoxais do mundo
do trabalho, considerando as características globais e multifacetadas de suas práticas e seus
enlaces com o setor privado. Na conjuntura de cortes e de desvalorização da ciência, as
abordagens gerencialistas ganham destaque e os estudantes de pós-graduação passam a ser
instrumentalizados para tamponar déficits e mitigar impactos do desinvestimento em
pesquisa. A metodologia incluiu questionários sobre o perfil dos estudantes e análise de
conteúdo de entrevistas semiestruturadas. A análise das entrevistas opera conceitos da
Psicodinâmica do Trabalho e Psicossociologia e é articulada às contribuições do materialismo
histórico-dialético sobre o contexto econômico-político, políticas educacionais e práticas
universitárias. Os resultados revelam malversação do reconhecimento das atividades dos
estudantes-pesquisadores e estreita relação dessas com o trabalho flexível, produtivo, intenso,
precário e heterônomo, expressas em frases e/ou termos emblemáticos, tais como: “é como se
fosse [a instituição de pesquisa] uma Companhia de Mineração e nós [pós-graduandos]
fôssemos os mineiros”.
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