“Como se fosse uma Companhia de Mineração e nós fôssemos os mineiros": O estudo do pós-graduando como trabalho precarizado e não-reconhecido

Autores

  • Ana Carolina Reis Universidade Federal Fluminense
  • Eduardo Pinto e Silva Universidade Federal de São Carlos

DOI:

https://doi.org/10.20873/2526-1487e024031

Palavras-chave:

Trabalho, Estudantes, Pesquisadores, Academias e Institutos

Resumo

O escopo deste estudo é investigar como as atividades acadêmicas de pós-graduandos de uma
instituição de pesquisa dita de excelência se entrelaçam com injunções paradoxais do mundo
do trabalho, considerando as características globais e multifacetadas de suas práticas e seus
enlaces com o setor privado. Na conjuntura de cortes e de desvalorização da ciência, as
abordagens gerencialistas ganham destaque e os estudantes de pós-graduação passam a ser
instrumentalizados para tamponar déficits e mitigar impactos do desinvestimento em
pesquisa. A metodologia incluiu questionários sobre o perfil dos estudantes e análise de
conteúdo de entrevistas semiestruturadas. A análise das entrevistas opera conceitos da
Psicodinâmica do Trabalho e Psicossociologia e é articulada às contribuições do materialismo
histórico-dialético sobre o contexto econômico-político, políticas educacionais e práticas
universitárias. Os resultados revelam malversação do reconhecimento das atividades dos
estudantes-pesquisadores e estreita relação dessas com o trabalho flexível, produtivo, intenso,
precário e heterônomo, expressas em frases e/ou termos emblemáticos, tais como: “é como se
fosse [a instituição de pesquisa] uma Companhia de Mineração e nós [pós-graduandos]
fôssemos os mineiros”.

Biografia do Autor

Ana Carolina Reis, Universidade Federal Fluminense

Psicóloga formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sendo pertencente à linha de pesquisa Estado, Política e Formação Humana. Integrante da Rede Universitas/Br - CNPq, associada ao Eixo 4 que versa sobre O trabalho nas instituições de educação superior brasileiras. Membro do Núcleo de Estudos: Trabalho, Subjetividade e Saúde (NETSS/Unicamp) e do grupo de pesquisa Trabalho, Política e Subjetividade (TRABPOLIS) da UFSCar. Possui formação técnica em Administração pela instituição ETEC Machado de Assis (2013). Suas principais temáticas de interesse giram em torno das relações entre trabalho e educação, cultura de segurança, formas de gestão e organização do trabalho, políticas públicas, saúde e processos de subjetivação.

 

Eduardo Pinto e Silva, Universidade Federal de São Carlos

Professor Associado IV do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no qual atuou na Chefia e Vice-Chefia (2015-2016), e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), linha de pesquisa "Estado, Política e Formação Humana" (Coordenador da Linha, 2018 - 2021). Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (1985-1990). Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (1997-2000), linha "Trabalho e Educação". Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2001-2005), linha "Política e Sistemas Educativos". Pós-Doutorado (2012-2013) pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH). Experiência profissional nas áreas de Saúde e Educação e no ensino superior. É líder do grupo de pesquisa Trabalho, Política e Subjetividade (TRABPOLIS) da UFSCar, e membro dos grupos de pesquisa "Núcleo de Estudos Trabalho, Saúde e Subjetividade" (NETSS - UNICAMP) e "Trabalho Docente na Educação Superior" (UERJ); Participa da pesquisa "Políticas, gestão e direito à educação superior: novos modos de regulação e tendências em construção", cujos integrantes são membros do GT11 da ANPED e da Rede Universitas-br. Desenvolve as pesquisas: "Trabalho e subjetividade do professor: estranhamento, sofrimento e prazer"; e "Sofrimento, adoecimento, ideação suicida e suicídio em estudantes universitários". Membro da Comissão de Política de Saúde Mental da UFSCar (2018-2021) e da Comissão de Promoção, Prevenção e Cuidado em Saúde mental da UFSCar (2023-atual). Membro da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) e do Núcleo Nordeste Paulista da Regional SP (Coordenação 2018-2021). Membro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) (2016-atual), na qual integra o GT "Trabalho, Subjetividade e Práticas Clínicas". Membro da Direção Regional SP do Sindicato Docente ANDES (2018-2023). Atuação e produção acadêmicas nas interfaces da Psicologia Social e do Trabalho com a Psicodinâmica do Trabalho, Psicossociologia, Psicanálise, Sociologia do Trabalho, Trabalho e Educação, Sociologia da Educação e Políticas Educacionais. Produção acadêmica nas quais aborda os seguintes temas: instituições e poder; gestão e organização do trabalho; sociabilidade e subjetividade; saúde do trabalhador; psicodinâmica do prazer, sofrimento e reconhecimento; trabalho do professor; sofrimento psíquico e aspectos psicossociais do adoecimento em estudantes universitários; Estado e políticas educacionais. 

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Publicado

2024-09-11

Como Citar

Reis, A. C., & Silva, E. P. e. (2024). “Como se fosse uma Companhia de Mineração e nós fôssemos os mineiros": O estudo do pós-graduando como trabalho precarizado e não-reconhecido. Trabalho (En)Cena, 9(Contínuo), e024031. https://doi.org/10.20873/2526-1487e024031

Edição

Seção

Dossiê: Trabalho, Subjetividades e Práticas Clínicas