AS MORTES DE SENHORITA ANDREZA: modos de acionamento das colonialidades
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2526-8031.2020v4n1p37Resumo
O objetivo deste artigo é analisar os modos de acionamento das colonialidades (QUIJANO, 2005, 2009, 2014; MALDONADO-TORRES, 2007; LUGONES, 2014) no limiar entre a existência e as mortes sociais de Senhorita Andreza, mulher negra da periferia de Belém (PA) que se tornou “celebridade” repentina e, meses depois, acabou assassinada. Como as colonialidades atuam no processo de visibilização de sujeitos subalternizados? A partir dessa questão-problema, o caminho metodológico segue a análise de quatro acontecimentos-chave e seus desdobramentos no período de exposição pública da imagem de Andreza, entre janeiro de 2016 e abril de 2017, tendo excertos midiáticos como empiria. As colonialidades que atravessam a visibilização de Senhorita Andreza se apresentam nas formas de 1) celebrificação pela via do risível e julgamento público, 2) criminalização, escárnio e racismo institucional, 3) presença fora do lugar na disputa político-partidária, 4) assassinato e negação do luto. Há, portanto, uma visibilização desumanizante, uma visibilidade incompleta, que não garante reconhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: Colonialidade; Visibilização; Morte social; Senhorita Andreza.
ABSTRACT
The purpose of this article is to analyze the ways in which colonialities (QUIJANO, 2005, 2009, 2014; MALDONADO-TORRES, 2007; LUGONES, 2014) are triggered on the threshold between the existence and the social deaths of Senhorita Andreza, black woman from the outskirts of Belém (PA) who became a sudden celebrity and, months later, ended up murdered. How do colonialities act in the process of making subaltern subjects visible? Based on this problem-issue, the methodological path follows the analysis of four key events and their developments in the period of public exposure of Andreza's image, between January 2016 and April 2017, having media excerpts as empirics. The colonialities that go through the visibility of Senhorita Andreza are presented in the forms of 1) celebrification through laughter and public judgment, 2) criminalization, scorn and institutional racism, 3) out of place presence in the political-party dispute, 4) murder and grief denial. There is, therefore, a dehumanizing visibility, incomplete visibility, that does not guarantee recognition.
KEYWORDS: Coloniality; Visibilization; Social death; Senhorita Andreza.
RESUMEN
El propósito de este artículo es analizar las formas en que se desencadenaron las colonialidades (QUIJANO, 2005, 2009, 2014; MALDONADO-TORRES, 2007; LUGONES, 2014) en el umbral entre la existencia y la muerte social de Señorita Andreza, una mujer negra de las afueras de Belém (PA) que se convirtió en una celebridad repentina y, meses después, terminó asesinada. ¿Cómo actúan las colonialidades en el proceso de hacer visibles los sujetos subalternos? Sobre la base de este pregunta-problema, la ruta metodológica sigue el análisis de cuatro eventos clave y sus desarrollos en el período de exposición pública de la imagen de Andreza, entre enero de 2016 y abril de 2017, con extractos de los medios de comunicación como empíricos. Las colonialidades que pasan por la visibilización de la Señorita Andreza se presentan en forma de 1) celebrización a través de la risa y el juicio público, 2) criminalización, desprecio y racismo institucional, 3) presencia fuera de lugar en la disputa de los partidos políticos, 4) asesinato y negación del luto. Existe, por lo tanto, una visibilización deshumanizante, visibilidad incompleta, que no garantiza el reconocimiento.
PALABRAS CLAVE: Colonialidad; Visibilización; Muerte social; Señorita Andreza.
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