A ESTRATÉGIA IMERSIVA DA PINTURA

(CLAUDE MONET, GUSTAV KLIMT E PER KIRKEBY)

Auteurs-es

Mots-clés :

paisagem; pintura; imersão; fenomenologia; percepção

Résumé

Tomamos por ponto de partida, neste artigo, a ultrapassagem do dualismo natureza/cultura e a constatação, feita pelos historiadores da arte, de que atualmente o observador já não se encontra situado diante da paisagem, e sim dentro dela. De que maneira a pintura contribui para essa mudança de paradigma? Como ela nos preparou para essa nova relação com o mundo? A análise de obras pintadas por Claude Monet (o ciclo dos Nenúfares), Gustav Klimt (Jardim com girassóis) e de certos cortes geológicos de Per Kirkeby permite reconstituir a estratégia que posiciona esse observador no interior da paisagem, propondo uma reavaliação da figura banalizada da imersão. Nossa deambulação pictórica desenrola-se em três momentos, de Claude Monet até Per Kirkeby, mostrando o modo como, ao refletir sobre as noções de formato e escala, a pintura não só repensa a relação com o corpo do observador, como também confere agentividade ao olhar e cria uma nova atitude frente à profundidade. Mais do que a invenção de novas paisagens, o artigo revela, consequentemente, uma conquista do próprio "ver" como meio para um aprimoramento da compreensão do mundo.

Bibliographies de l'auteur-e

Anne Beyaert-Geslin, Université Bordeaux Montaigne

Doutora em Ciências da Linguagem (Semiótica), Université Bordeaux Montaigne

Ivã Carlos Lopes, Universidade de São Paulo

Graduou-se em Letras pela Universidade de São Paulo e realizou posteriormente o mestrado em Artes e o doutorado em Semiótica e Linguística Geral pela mesma instituição, com estágio-sanduíche na Universidade de Paris X - Nanterre (Michel Arrivé, co-orientador). No ano letivo 2008-2009, fez estágio de pós-doutoramento em semiótica na Universidade de Limoges, França (Jacques Fontanille, supervisor). Durante o primeiro semestre de 2013, estagiou como pós-doutorando na Universidade de Liège, Bélgica (Sémir Badir, supervisor). Professor assistente doutor da FFLCH-USP, leciona na Graduação em Letras e na Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral. Suas pesquisas e publicações estão voltadas sobretudo para a semiótica e os domínios conexos. Integra o corpo editorial de diferentes periódicos, entre os quais Letras & Letras (UFU), CASA - Cadernos de Semiótica Aplicada (UNESP), Nouveaux Actes Sémiotiques (Université de Limoges), Signata (Université de Liège). Editor responsável pela revista Estudos Semióticos (USP), ao lado das professoras Eliane Soares de Lima e Carolina Lemos. Faz parte da equipe internacional de assessores científicos do Fonds National de la Recherche Scientifique (FRS/FNRS, BE) e da coleção "Sigilla" - Presses Universitaires de Liège. Tem traduzido, muitas vezes em colaboração, livros e artigos de diferentes autores, entre os quais Michel Arrivé, Denis Bertrand, Francis Édeline, Jacques Fontanille, A. J. Greimas, Herman Parret, François Rastier, Claude Zilberberg. Atua na área de semiótica e arredores, interessando-se, especialmente, pela epistemologia das ciências da linguagem, pela poética e pela linguística geral.

Références

ACQUARELLI, L. Pour une théorie de l’image immersive. Du trompe-l’œil aux réalités virtuelles. Document de recherche original en vue de l’HDR, Université Sorbonne Nouvelle, 2024.

ARASSE, D. Le détail. Pour une histoire rapprochée de la peinture. Paris: Flammarion, 1992.

ARDENNE, P. Un art écologique. Création plasticienne et anthropocène. Lormont: Le bord de l’eau, 2019.

ARRIVÉ, M. Héritiers ou iconoclastes ? “L'abstraction américaine et le dernier Monet”. TransAtlantica, dossier "Morphing Bodies: Strategies of Embodiment in Contemporary US Cultural Practices", n. 1-2017. Disponível em: doi.org/10.4000/transatlantica.8611.

BAILLY, J.-C. Le parti pris des animaux. Paris: Christian Bourgois, 2020.

BASTIDE, F. La démonstration. Actes Sémiotiques - Documents, III, n° 28, 1981, pp. 7-8. Disponível em: https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/7820.

BERQUE, A. Être humains sur la terre. Paris: Gallimard, 1996.

BEYAERT-GESLIN, A. Le panorama, au bout du parcours. Protée, vol. 33, n° 2, Le sens du parcours (A. Beyaert, dir.), 2005, pp. 69-79.

BEYAERT-GESLIN, A. Scala, proporzioni, formato. Alcune istruzioni per imbarcarsi su una zattera. In: MIGLIORE, T.; COLAS-BLAISE, M. (orgs.). Semiotica del formato. Misure, peso, volume, proporzioni, scala. Milão: éditions Mimesis/Insegne, 2022, pp. 61-82.

BEYAERT-GESLIN, A. Insaisissable vivant. Pour une sémio-anthropologie de l’art. Limoges: PULIM, 2024.

BEYAERT-GESLIN, A. De animales y plantas: otro régimen de enunciación. Tópicos del seminario, vol. 1, núm. 53: La enunciación: reflexiones actuales (María Isabel Filinich, Lorena Ventura Ramos, dirs.), 2025a, p. 47-65. Disponível em: https://doi.org/10.35494/topsem.2025.1.53.892.

BEYAERT-GESLIN, A. Trois mythes écologiques entre terre et ciel. A propos d’œuvres de Constantin Brancusi, Gina Pane et Anselm Kiefer. Cahiers de sémiotique des cultures, n° 3, 2025b – 1, Écologie du sens, sens de l’écologie. DOI: 10.48611/isbn.978-2-406-18391-4.p.0111.

BORDRON, J.-F. Les objets en parties (esquisse d'ontologie matérielle). Langages, n. 103, 1991, p. 51-65. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/lgge_0458-726x_1991_num_25_103_1607.

BOUDON, P. Sur l’espace architectural. Essai d’épistémologie de l’architecture. Paris: Dunod, 1971.

CARANI, M. La sémiotique visuelle, le plastique et l’espace du proche. Protée, vol. 24, n° 1, 1996a, p. 16-24.

CARANI, M. Le loin et le proche comme lieux (plastiques) de passage. Visio, vol. 1, n° 2, 1996b, p. 85-97.

CLARK, K. L’Art du paysage. Paris: Montfort, 1994.

DESCOLA, P. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard, 2005.

DESCOLA, P.; INGOLD, T.; LUSSAULT, M. Être au monde: quelle expérience commune? Lyon: PUL, 2014.

FONTANILLE, J. Sémiotique et littérature. Paris: PUF, 1999.

GREENBERG, C. Art and Culture. Boston: Beacon Press, 1961.

GUELTON, B. Les Figures de l’immersion, Arts contemporains. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2014.

HARAWAY, D. Vivre avec le trouble. Traduzido por Vivien García. Paris: Les Éditions du Monde à Faire, 2020 [2016].

INGOLD, T. The perception of the environment. Essays on livelihood, dwelling and skill. Londres/Nova Iorque: Routledge, 2005 [2000].

INGOLD, T. Marcher avec les dragons. Traduzido por Pierre Madelin. Bruxelles: Zones Sensibles, 2013.

KIRKEBY, P. Bravura. Traduzido por Denise Bernard-Folliot. Paris: École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, 1998.

LHOTE, A. Traités du paysage et de la figure. Paris: Grasset, 1999 [1958].

MERLEAU-PONTY, M. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1993 [1945].

MERLEAU-PONTY, M. L’œil et l’esprit. Paris: Gallimard, 1985 [1964].

OUELLET, P. Poétique du regard. Littérature, perception, identité. Limoges: PULIM, 2000.

PONGE, F. “De l’eau”. In: PONGE, F. Le parti pris des choses. Paris: Gallimard, 1988 [1926].

SCHAPIRO, M. Sur quelques problèmes de sémiotique de l’art visuel: champ et véhicule dans les signes iconiques. Style, artiste et société. Paris: Gallimard, 2005 [1992].

SIMMEL, G. La quantité esthétique. In: SIMMEL, G. Le cadre et autres essais. Traduzido por K. Winkelvoss, 2003; “Die ästhetische Quantität”. Der Zeitgeist, Beiblatt zum Berliner Tageblatt. Berlin, 30 mars 1903.

THÜRLEMANN, F. Blumen-Mythos (1918) de P. Klee. In: HÉNAULT, A.; BEYAERT-GESLIN, A. (orgs.). Ateliers de sémiotique visuelle. Paris: PUF, 2004.

Téléchargements

Publié-e

2025-12-19

Comment citer

BEYAERT-GESLIN, Anne; LOPES, Ivã Carlos. A ESTRATÉGIA IMERSIVA DA PINTURA: (CLAUDE MONET, GUSTAV KLIMT E PER KIRKEBY). Acta Semiótica et Lingvistica, [S. l.], v. 33, n. 2, p. 136–155, 2025. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/actas/article/view/22503. Acesso em: 21 déc. 2025.