[CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO] Semiótica, literatura e objetos-suportes: reflexões teóricas, análises e propostas para a prática docente
Este dossiê convida pesquisadoras e pesquisadores a refletirem sobre o papel do suporte na produção de sentido, com especial atenção às suas articulações com o texto literário, as práticas de linguagem contemporâneas e os desafios impostos à formação docente. Compreendido como elemento material e formal que condiciona a realização e os efeitos do texto, o suporte ganha centralidade em um contexto marcado por práticas discursivas híbridas, múltiplas linguagens e transformações nos modos de circulação e leitura.
De um lado, os textos, em consonância com as inovações tecnológicas e com a pluralização de discursos sociais não hegemônicos, hibridizam-se em uma diversidade material e de gêneros alargando seu escopo para além dos suportes tradicionais. Na literatura, por exemplo, a valorização da linguagem oral e musical é repercutida no Prêmio Nobel de Literatura de 2016 dado ao cancionista Bob Dylan, na adoção do álbum Sobrevivendo no Inferno dos Racionais MC's pelo vestibular da Unicamp de 2020, no fortalecimento do movimento poético do Slam, assim como nos textos digitais que integram as linguagens verbal, visual, musical, cinética, entre outras, ou ainda na própria experimentação da linguagem verbal em seu suporte tradicional, como na obra Inquérito policial. Família Tobias de Ricardo Lísias (2016), em que o “livro” é concebido em um formato de inquérito. Também se observa a abertura do texto literário para o diálogo com práticas de linguagem que possuem o visual como um de seus elementos centrais, como as inscrições urbanas e a HQ. Conforme Pereira (2020):
A literatura mostrou-se receptiva em relação às inovações tecnológicas desde o momento em que estas últimas adentraram os campos das artes e da cultura. As movimentações entre o livro impresso e as mídias audiovisuais e eletrônicas intensificam-se continuamente, como se observa em formas ficcionais com ampla circulação na web. Essa aproximação deu origem ao que se define genericamente como hibridização, processo que ocorre em diversos níveis (p. 80).
De outro lado, as diretrizes educacionais atuais exigem que os professores e as professoras sejam capazes de trabalhar com a multimodalidade de linguagens, que se “refere à multiplicidade de linguagens que provocam sentidos múltiplos” (São Paulo, 2019). Essa demanda de qualificação docente, bastante motivada pela recente Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018), não encontra apoio nas grades curriculares tradicionais dos cursos de Letras, nem nas formações de professores e professoras já atuantes no ensino, o que gera um descompasso entre as exigências do perfil profissional docente e sua formação.
Uma das dez Competências Gerais da Educação Básica, entendidas como “a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (Brasil, 2018, p.8), mostra exatamente essa necessidade de:
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo (BRASIL, 2018, p. 9).
Diante disso, este dossiê busca acolher artigos que discutam, de forma teórica ou analítica, os efeitos da materialidade sobre a constituição do texto literário e seus sentidos; o papel do suporte em práticas artísticas e discursivas; a hibridização de linguagens na literatura e os caminhos pelos quais o ensino pode integrar essas particularidades da significação, promovendo práticas pedagógicas sensíveis à diversidade de linguagens, bem como aos formatos e suportes que compõem os textos na contemporaneidade. Ao promover esse debate, pretende-se contribuir para o fortalecimento das pesquisas sobre linguagem na sua interface com os estudos literários, a proposta teórico-metodológica da semiótica e a formação docente.
Organização: Mariana Luz Pessoa de Barros (UFSCar) Eliane Soares de Lima (UFF) Thiago Moreira Correa (UNESP) Fernando Martins Fiori (UFSCar/UNIP)
Prorrogada a data limite para envio: 30/09/2025.
Previsão de publicação: segundo semestre de 2025.