Quando campesinato vira verbo: campesinar a escola!

Autores

  • Camila Zucon Ramos de Siqueira Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG https://orcid.org/0000-0003-0046-1950
  • Maria de Fátima Almeida Martins Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

DOI:

https://doi.org/10.20873/uft.rbec.e9157

Resumo

O objetivo deste artigo é discutir a relação entre o campesinato, o processo educativo do trabalho camponês e a escola. Para lidar com essa questão partiu-se de leituras sobre o campesinato, Educação do Campo e Pedagogia da Alternância, assim como da análise dos dados da pesquisa de doutorado desenvolvida no território norte do Espírito Santo, região Sudeste do Brasil, onde a pedagogia camponesa tem sido expandida para várias escolas públicas. A Pedagogia da Alternância, uma das formas encontrada pelos camponeses para educar seus filhos, traz a voz e as práticas produtivas e culturais campesinas para o processo formativo, sendo a tríade terra, trabalho e família o pilar dessa experiência. O que encontramos nessa pesquisa foi uma prática do movimento camponês e seu intento de incluir a escola na manutenção dessa tríade com o propósito de educar de forma crítica, implicando um projeto educativo que atenda horizontes de emancipação construídos coletivamente – não somente de escolarização.

Palavras-chave: Campesinato, Educação do Campo, Escola Camponesa.


When peasantry becomes a verb: peasantry the school!                                             

ABSTRACT. The purpose of this article is to discuss the relationship between the peasantry, the educational process of peasant work and the school. To deal with this issue, we started with readings on the peasantry, Rural Education and Pedagogy of Alternation, as well as the analysis of data from the doctoral research developed in the northern territory of Espírito Santo, in the Southeast of Brazil, where peasant pedagogy has been expanded to several public schools. Pedagogy of Alternation, one of the ways found by peasants to educate their children, brings the voice and peasant productive and cultural practices to the training process, with the triad of land, work and family being the pillar of this experience. What we found in this research was a practice of the peasant movement and its attempt to include the school in the maintenance of this triad with the purpose of educating critically, implying an educational project that meets the horizons of emancipation built collectively - not only of schooling.

Keywords: Peasantry, Countryside Education, Peasant School.

 

Cuando el campesinado se convierte en verbo: ¡campesinar la escuela!

RESUMEN. El objetivo de este artículo es discutir la relación entre el campesinado, el proceso educativo del trabajo campesino y la escuela. Para lidiar con esta cuestión, se ha analizado la literatura sobre el campesinado, la Educación Rural y la Pedagogía de la Alternancia, así como el análisis de los datos de la investigación de doctorado desempeñada en el territorio norte del estado de Espírito Santo, en la región sureste de Brasil, donde la pedagogía campesina se ha expandido a varias escuelas públicas. La Pedagogía de la Alternancia, una de las formas encontradas por los campesinos para educar a sus hijos, trae la voz del campesinado, y sus prácticas productivas y culturales, hacia el propio proceso formativo, configurándose como pilar de esta experiencia la triada tierra, trabajo y familia. Lo que hemos encontrado en nuestra investigación es una práctica del movimiento campesino y su intento de incluir la escuela en la manutención de esta triada con el propósito de educar críticamente, involucrándose en un proyecto educativo que atienda no sólo horizontes de escolarización, sino también verdaderos horizontes de emancipación colectivamente construidos.

Palabras clave: Campesinado, Educación Rural, Escuela Campesina.

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Biografia do Autor

Camila Zucon Ramos de Siqueira, Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG

Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Educação pela mesma instituição, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2018). Atualmente é professora da Universidade Estadual de Minas Gerais, na área de Educação e Ensino de História e Geografia.

Maria de Fátima Almeida Martins, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Mestre e Doutora em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela Universidade de Barcelona (2020). Atualmente é professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua e desenvolve pesquisas na área de Geografia e na Educação do Campo.

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Publicado

2020-10-17

Como Citar

de Siqueira, C. Z. R., & Almeida Martins, M. de F. (2020). Quando campesinato vira verbo: campesinar a escola!. Revista Brasileira De Educação Do Campo, 5, e9157. https://doi.org/10.20873/uft.rbec.e9157

Edição

Seção

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