Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7211
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e7211
10.20873/uft.rbec.e7211
2019
ISSN: 2525-4863
1
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Histórico da constituição das Efa’s do Estado do Espírito
Santo
Bruno Raphael Mont Alto Santos
1
, Sandra Regina Gregório
2
1
Centro Estadual Integrado de Educação Rural - CEIER. Córrego São Roque do Estevão, s/n, Zona Rural. Vila Pavão - ES.
Brasil.
2
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.
Autor para correspondência/Author for correspondence: brunomalto@bol.com.br
RESUMO. Neste trabalho, temos como objetivo discutir a
história da Pedagogia da Alternância no Estado do Espírito
Santo. Assim, buscamos tratar da criação das EFA’s - Escolas
Famílias Agrícolas no Brasil, das características dessas
instituições e do movimento que surge para a implantação da
Pedagogia da Alternância no país. Inicialmente, iremos relatar o
surgimento da Pedagogia da Alternância na França, suas
características e contexto atual no Espírito Santo. Seguiremos
relatando a forma como integrantes da igreja católica,
juntamente com membros da sociedade civil, se organizaram
para a criação do Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo - Mepes e como foi o processo de criação das
primeiras EFA’s. Encerraremos este trabalho tratando da
Raceffaes- Regional das Associações dos Centros Familiares de
Formação em Alternância, instituição que atualmente se
responsabiliza pela unidade pedagógica dos Ceffa’s Centros
Familiares de Formação em Alternância do Norte do Espírito
Santo. Ademais, destacaremos o processo de constituição dessa
instituição e sua forma de atuação dentro dos Ceffa’s. O
presente trabalho se refere a uma pesquisa bibliográfica e
documental e disponibiliza uma pequena base teórica
concernente aos documentos da Escola Família Agrícola de
Chapadinha e dos autores que tratam das questões mais ligadas à
história dessa instituição.
Palavras-chave: Pedagogia da Alternância, Escola Família
Agrícola, Mepes, Ceffa’s, Raceffaes.
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History of the constitution of EFA's of the state of Espírito
Santo
ABSTRACT. In this work we aim to discuss the history of the
pedagogy of alternation in the state of Espírito Santo. Thus, we
seek addressing the creation of EFA's - Agricultural Families
Schools in Brazil, the characteristics of these institutions and the
movement that arises for the implementation of the pedagogy of
alternation in the country. Initially, we will report the emergence
of the pedagogy of alternation in France, its characteristics and
current context in the Espírito Santo. We will follow the report
on how members of the Catholic Church, together with
members of civil society, have organized themselves for the
creation of the promotional education movement of Espírito
Santo - mepes and how was the process of creation of the first
EFA's. We will conclude this work dealing with Raceffaes-
regional associations of family centers of training in alternation,
institution that currently is responsible for the unit pedagogical
of the Ceffa's familiar centers of training in alternation of the
north of Espírito Santo. In addition, we will highlight the
process of constitution of this institution and its form of action
within the Ceffa's. The present work refers to a bibliographical
and documentary research and provides a small theoretical basis
concerning the documents of the family Agricultural School of
Chapadinha and of the authors who deal with the issues most
related to the history of this institution.
Keywords: Pedagogy of Alternation, Family Farm School,
Mepes, Ceffa's, Raceffaes.
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Historia de la Constitución de la EFA del estado del
Espírito Santo
RESUMEN. En este trabajo pretendemos discutir la historia de
la pedagogía de la alternancia en el estado de Espírito Santo. Por
lo tanto, buscamos abordando la creación de-Escuelas de
Familias Agrícolas en Brasil, las características de estas
instituciones y el movimiento que surge para la implementación
de la pedagogía de la alternancia en el país. Inicialmente,
informaremos del surgimiento de la pedagogía de la alternancia
en Francia, sus características y contexto actual en el Espíritu
Santo. Seguiremos el informe sobre cómo los miembros de la
Iglesia Católica, junto con miembros de la sociedad civil, se han
organizado para la creación del movimiento educativo
promocional de Espírito Santo - mepes y cómo fue el proceso de
Creación de las primeras EFA. Concluiremos este trabajo
tratando con Raceffaes - Asociaciones regionales de centros
familiares de formación en alternancia, institución que
actualmente es responsable de la unidad Pedagógica de los Ceffa
centros familiares de formación en alternancia del Norte de
Espírito Santo. Además, destacaremos el proceso de
constitución de esta institución y su forma de acción dentro de la
Ceffa. La presente obra se refiere a una investigación
bibliográfica y documental y proporciona una pequeña base
teórica sobre los documentos de la Escuela Agrícola familiar de
Chapadinha y de los autores que se ocupan de los temas más
relacionados con la historia de este Institución.
Palabras clave: Pedagogía de la Alternancia, Escuela Familiar
de la Granja, Mepes, Ceffa's, Raceffaes.
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Introdução
Neste trabalho, buscaremos fazer um
relato acerca da constituição, no Estado do
Espírito Santo, das Escolas Famílias
Agrícolas (EFA’s), bem como de sua
relação com a Pedagogia da Alternância
(PA), desde o seu surgimento na França até
os dias atuais. Iremos relatar as primeiras
iniciativas para a constituição das EFA’s e
a sua relação com o contexto local.
Trataremos também da expansão da PA e
das tensões para a manutenção do modelo
de Centros Familiares de Formação em
Alternância (Ceffa’s), proposto pelo
Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo (Mepes), e da participação
do poder público nesse contexto de
educação do campo.
O desenvolvimento desta pesquisa se
deu a partir de análises de documentos
referentes à Escola Família Agrícola de
Chapadinha, relacionados à sua fundação e
ao seu funcionamento, bem como às suas
bases filosóficas e metodológicas, dentre
outros aspectos, como O Plano de
Formação, O Plano de Desenvolvimento
Institucional, Processo de Renovação de
Curso, dentre outros. A escolha dessa
unidade do Mepes se deu em função de
parte de minha jornada profissional como
educador do campo ter ocorrido nessa
instituição. Também foram analisados
textos de teóricos do movimento Ceffa e de
testemunhos da constituição das EFA’s no
Estado do Espírito Santo. Para garantia de
fidelidade aos fatos decorridos, nos
apoiamos na tese de doutorado de Paolo
Nosella, um dos fundadores do Mepes e
testemunho vivo dessa história. Para
caracterização dos Ceffa’s e da Regional
das Associações dos Centros Familiares de
Formação em Alternância Raceffaes,
utilizamos documentos disponibilizados
pela própria Raceffaes, como sínteses de
encontros de monitores, e uma obra recente
da própria instituição, intitulada
Cultivando a Educação dos Povos do
Campo do Espírito Santo.
Considerações sobre o tema
A Pedagogia da Alternância, com o
seu o surgimento na França, no ano de
1936, tinha como pano de fundo uma
situação delicada: agricultores
desestimulados com a produção agrícola e
apreensivos com a falta de atenção dada à
educação de seus filhos, além da
preocupação iminente de abandono do
campo devido às dificuldades de
permanência encontradas pelos
camponeses franceses.
Segundo a percepção de Abbé
Granereau, padre da pequena paróquia
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rural de Sérignac-Peboudou, considerado
como o principal idealizador da Pedagogia
da Alternância, os camponeses estavam à
mercê das ações do Estado e da igreja e
nenhuma das duas instituições tinha
respostas aos problemas do campesinato.
Por isso, lhes era oferecida uma
escolarização urbanizada, que os levaria
mais adiante a abandonarem suas terras,
movidos pela crença de que o campo não
era o local onde conseguiriam prosperar.
O padre francês concluiu, durante
sua trajetória, que os problemas dos
agricultores eram a escolarização, visto
que não se conseguia realizar uma
formação voltada à potencialização dos
jovens camponeses. Ao contrário, o que
era oferecido aos jovens agricultores era a
ideia de que possuíam inteligência e que
por isso mesmo deveriam deixar a “roça” a
fim de avançar nos estudos, como conclui
Nosella: “a terra tornava-se o oposto de
sabedoria, de ciência, de sucesso, mais
uma vez celebrava-se o desquite entre
cultura e agricultura”. (Nosella, 2012, p.
18).
A solução encontrada pelo padre
francês foi talvez a mais simples e a mais
complexa possível. Os jovens camponeses
teriam que ir até a paróquia local, onde
permaneceriam por um período de tempo,
uma semana, e depois retornariam para
suas propriedades, onde ficariam por três
semanas. Dessa forma, nasceu, em uma
comunidade rural da França, o que hoje é
conhecido como Pedagogia da Alternância.
A esse respeito, esclarece Nosella:
... desde o começo, praticamente,
nasceu a ideia de alternância: uma
semana por mês na casa do padre.
Não havia outro professor senão o
padre. Os cursos não correspondiam
a nenhum currículo pré-formulado:
era o material, que chegava na casa
do padre por correspondência,
oferecidos por um Instituto católico,
que tinha cursos de agricultura por
correspondência. A única tarefa do
padre era auxiliar os jovens a
seguirem esses cursos. O conteúdo
era totalmente técnico-agrícola. A
parte de formação geral nada mais
era que uma reflexão informal entre
os jovens e o sacerdote. Nesta
reflexão entrava muito assunto
religioso, de formação humana e
cultural sobre a vida do campo, sobre
os valores do campo etc. (Nosella,
2012, p. 19-20).
A formação era simples, porque a
visão do agricultor, diferente da que tem o
homem urbano, é de solucionar problemas
cotidianos, problemas que muitas vezes
somente ele pode solucionar, como a
transformação da terra, do campo, do local
onde ele reside. E complexa, porque, até
então, o que se havia construído era apenas
a proposta de alternar o tempo e o espaço
dos jovens. Não havia uma sistematização
pedagógica como existe hoje em dia, era
necessário começar do zero. Para realizar
esse começo, Abbé Granereau, que possuía
experiência em sindicatos rurais, se apoiou
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nessa experiência. Além disso, na
formação, era muito comum a presença dos
ideais católicos, que tinham origem no
movimento da Ação Católica Francesa
(JAC). Sobre esse aspecto, afirma Nosella:
Outro aspecto característico na
“Maison-Familiale” é que sempre
manteve uma relação muito estreita
com os sindicatos rurais, primeiro, e,
em segundo lugar, com o movimento
da Ação Católica Francesa (JAC) e
da Juventude Agrícola Católica: isto
significa que a “Maison Familiale”
nunca foi uma Escola isolada da ação
e desenvolvimento socioeconômico
de seu meio. (Nosella, 2012, p. 20).
Mesmo sendo uma experiência
pioneira, o início da Pedagogia da
Alternância na França encontrou apoio do
governo que, até aquele momento, não
tinha uma proposta de ensino agrícola, e
também de pensadores e intelectuais, que
viam naquele movimento muitas
possibilidades.
No Brasil, as primeiras experiências
com a Pedagogia da Alternância ocorrem
no Estado do Espírito Santo e são
motivadas por párocos italianos à procura
de formas para contribuírem com os
imigrantes italianos que se encontravam
em condições de vida precárias no interior
do Estado. Uma das formas encontradas foi
a Escola Família Agrícola, uma
experiência que os párocos conheceram na
Itália.
Para a implantação das EFA’s no
Brasil, fez-se necessária a criação de uma
instituição que desse subsídio jurídico ao
engendramento das escolas. Com tal
finalidade, foi concebido o Movimento de
Educação Promocional do Espírito Santo -
Mepes.
A criação do Mepes impulsionou a
expansão das EFA’s, inicialmente na
Região Sul do Espírito Santo e
posteriormente na Região Norte do estado,
onde adquiriram uma característica
diferente das EFA’s da Região Sul.
Geograficamente, cabe fazer um aparte, o
Estado do Espírito Santo se divide nessas
duas regiões por meio das águas do Rio
Doce. Na Região Sul, concentrou-se uma
maior quantidade de imigrantes europeus,
enquanto na Região Norte predominaram
os povos que vieram de outros estados,
com características mais populares e com
participação marcante de movimentos
sociais em sua organização. Essas
características acabaram se manifestando
dentro das EFA’s: na Região Sul do
Estado, desenvolveram-se EFA’s com uma
presença forte da Igreja Católica, o que se
justifica pela quantidade grande de
imigrantes europeus naquela região,
principalmente os italianos. na Região
Norte, prevaleceu a forte presença dos
movimentos sociais dentro das EFA’s,
característica que havia na região, mas
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que se manifestou dentro da Escola,
principalmente por a EFA manter o
princípio da Gestão Compartilhada.
As características das populações que
compunham as comunidades onde se
encontravam as EFA’s foram
determinantes para caracterizar a própria
prática pedagógica das escolas. Enquanto
no Sul o Mepes se firmou como o
responsável pedagógico pelas escolas da
região, no Norte foi criada outra
instituição, que se consolidou como a
responsável pela articulação pedagógica
das EFA’s e das famílias que faziam parte
da associação das escolas: a Regional das
Associações dos Centros Familiares de
Formação em Alternância (Raceffaes)
tornou-se, na Região Norte, a principal
articuladora pedagógica dos Centros
Familiares de Formação em Alternância
(Ceffas), termo utilizado para designar
todas as instituições que utilizam a
Pedagogia da Alternância como a principal
estratégia pedagógica, ficando a
participação do Mepes restrita a questões
jurídicas e à manutenção dos salários dos
monitores das EFA’s.
A Pedagogia da Alternância se
expressa em diferentes modelos. No
modelo das EFA’s mantidas pelo Mepes,
atualmente existe no Estado um total de 18
escolas, nove na Região Sul e nove na
Região Norte. No entanto, as experiências
em Pedagogia da Alternância vêm se
multiplicando no Estado, principalmente
na Região Norte, onde existem escolas
municipais que adotam essa pedagogia.
Um breve histórico sobre o Mepes
O caminho percorrido pela educação
do campo, até esse momento, no Estado do
Espírito Santo, é uma importante
referência sobre as possibilidades desse
movimento de educação, em especial no
que diz respeito à história da Pedagogia da
Alternância. Cabe pontuar, nesse aspecto,
que, como afirmam Sobreira e Silva
(2014), a Pedagogia da Alternância tem
sido considerada uma das estratégias com
forte potencial pedagógico para a
efetivação dos princípios da Educação do
Campo.
Ademais, sendo um movimento
historicamente conhecido por alternar
espaços e tempos na educação formal e por
não possuir origens academicistas, a
Pedagogia da Alternância, no Brasil, tem
suas raízes fincadas nas terras capixabas. É
o que relata Nosella:
Em 11 de dezembro de 1966, em
Padova (Itália), após a apresentação
da Fundação ítalo-brasileira pelo
desenvolvimento religioso, cultural,
econômico e social do Estado do
Espírito Santo no Brasil, decidiu-se,
com o intuito de tornar mais eficiente
e sério o compromisso, fundar uma
entidade jurídica chamada
Associazione degli Amici dello Stato
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Brasiliano dello Espírito Santo
(AES), inclusive para possibilitar a
assinatura de convênios e
arrecadações de recursos. (Nosella,
2012, p. 62).
Esse era o esboço do que mais
adiante se tornaria um grande movimento
de educação. O esforço em criar tal
instituição se justificava a partir do
diagnóstico das precárias condições de
vida enfrentadas pelos camponeses do
Espírito Santo, mais especificamente pelos
imigrantes italianos que ali se
encontravam. Uma das principais
testemunhas de tais condições de vida e o
principal idealizador de um movimento de
educação promocional no Espírito Santo, o
padre Humberto Pietogrande, pode ser
considerado o primeiro fomentador da
Pedagogia da Alternância no Brasil.
Para Sérgio Zamberláni, monitor
aposentado do Mepes e um dos fundadores
do Movimento de Educação Promocional
do Espírito Santo, o padre Humberto é o
principal nome da fundação do
movimento: na história do Mepes, o
grande nome é o do Padre Humberto
Pietrogrande, um homem empreendedor e
à frente do seu tempo em cujo coração
nasceu, há mais de 42 anos, a ideia do
Mepes”. (Zamberláni, 2015).
A constituição da AES possibilitou o
intercâmbio Brasil-Itália e, a partir da
articulação de técnicos e acadêmicos
italianos e estagiários brasileiros, deu-se a
criação de outra instituição, que surgiu
como a responsável pela expressão jurídica
do movimento que despontava no Estado
do Espírito Santo, o Mepes (Nosella,
2012). A constituição do Mepes, por sua
vez, possibilitou a construção de espaços e
debates acerca de diversos problemas
relacionados à vida dos agricultores do
Espírito Santo, dentre eles cultura, saúde,
política e, principalmente, educação,
segundo Nosella:
No dia 25 de abril de 1968, na
Câmara Municipal de Anchieta, uma
Assembleia de agricultores dos
municípios assinava a ata constitutiva
do Movimento de Educação
Promocional do Espírito Santo
(Mepes), que tinha como finalidade a
promoção da pessoa humana, através
de uma ação comunitária que
desenvolvesse a mais ampla
atividade inerente ao interesse da
agricultura, principalmente no que
tange à elevação cultural, social e
econômica dos agricultores. Na Junta
Diretora do Mepes, se encontravam
os representantes da Companhia de
Jesus, dos Vigários, dos Prefeitos, da
Associação dos Amigos Italianos e
da Acares (Associação de Crédito e
Assistência Rural do Espírito Santo).
(Nosella, 2012, p. 35 apud Cadernos
Do Ceas, Chance aos Agricultores,
1970, nº 08, p. 4-5).
Importante salientar que o
Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo foi formalizado no ano de
1968, mas havia surgido antes dessa data, a
partir das inquietações dos párocos
italianos que realizavam missões no
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Espírito Santo. Esses párocos acreditavam
que deveria ser ofertada, aos filhos dos
camponeses, uma educação promocional e
transformadora, que teria objetivos
importantes como a promoção integral do
ser humano e a melhoria da qualidade de
vida dos camponeses.
Tratava-se de objetivos
significativos, mas que concorriam com
tempos difíceis, pois, naquele momento
histórico, o Brasil vivia uma forte ditadura
militar, que via com maus olhos ações
populistas e comunitárias como as
desenvolvidas pelo Mepes. Contudo, o fato
de o Mepes ser um movimento com forte
presença de integrantes da igreja católica
permitiu que as EFA’s continuassem a se
desenvolver e a serem criadas, mesmo
debaixo dos olhos dos incitadores do
regime militar ditatorial que governava o
Brasil.
Um aspecto importante do
desenvolvimento das EFA’s deve ser
mencionado: segundo Nosella (2012),
quando estagiários foram enviados à Itália,
o objetivo não era aprofundarem-se nas
Escolas Famílias Agrícolas, embora tenha
sido sugerido aos estagiários que
conhecessem tal experiência:
Interessa notar, ainda, que os
estagiários não foram enviados à
Itália com o explícito propósito de se
especializar em Escola-Família.
Simplesmente aconteceu que a AES,
tendo contato com as Escolas-
Família da Itália, achou interessante
mandar os brasileiros estagiarem
nessas escolas. (Nosella, 2012, p.
63).
Vale ressaltar que o intercâmbio
Brasil-Itália, bem como a posterior criação
do Mepes, tinha como motivação a
precária condição de vida dos imigrantes
italianos do Espírito Santo. A economia
capixaba enfrentava sérios problemas
devido a crises na agricultura e êxodo rural
intenso. Além das dificuldades encontradas
na agricultura, os camponeses também
sofriam com o abandono da educação no
meio rural. Nesse sentido, a proposta
educacional do Mepes vinha como resposta
às duras condições enfrentadas no campo
pelos agricultores e ao descaso em relação
à educação dos jovens camponeses. Como
reflete Nosella, se a educação como um
todo tem suas dificuldades e crises, isso é
ainda mais visível na educação dos povos
rurais: “se a crise da escola é
universalmente proclamada, a crise da
escola do meio rural é ainda mais
evidente”. (Nosella, 2012, p. 09).
Retomando, neste ponto do texto,
ilustrativa e comparativamente, um breve
apanhado histórico, podemos firmar que a
Pedagogia da Alternância começou a ser
desenvolvida na Itália, após a Segunda
Guerra Mundial, devido à necessidade de
reestruturação dos campos de produção de
alimentos no país. Dessa forma, foram
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criadas EFA’s com o intuito de formar
produtores de alimentos.
É importante ressaltar,
comparativamente, que as Mansões
Familiares Rurais da França, primeiras
instituições a ofertarem e a desenvolverem
a Pedagogia da Alternância, aspecto
abordado anteriormente, não tinham o
espaço da escola como unidade
demonstrativa, como era o caso das
Escolas Famílias da Itália. Essas, devido às
necessidades do período pós-guerra,
atribuíram-se uma função diferente das
Escolas da França: a propriedade da escola
ou unidade demonstrativa de produção.
Cabe constatar, neste ponto, que as
EFA’s criadas no Brasil, especificamente
as criadas pelo Mepes, possuíam
características das EFA’s da Itália e tais
características se justificam pela criação da
AES e, posteriormente, do Mepes.
Evidencia-se, então, uma grande
influência da experiência italiana sobre a
Pedagogia da Alternância brasileira,
desenvolvida no Estado do Espírito Santo.
É importante ressaltar que as demais
experiências de Formação em Alternância
desenvolvidas no Brasil tiveram
influências diferentes, em especial as
Casas Familiares Rurais-CFR’s, que têm
como principal influência a experiência
francesa.
De fato, cabe esclarecer aqui, foi no
contexto local de empobrecimento do
campo e dos camponeses, de abandono de
propriedades em busca de subempregos e
descaso do estado em relação à educação
do campo que se criaram o Mepes e as
primeiras Escolas Famílias do Espírito
Santo. Essa criação foi inspirada nos
modelos de Escolas Famílias Italianas, que
chegaram até o Brasil devido ao empenho
de membros da igreja católica, tendo aqui
recebido o apoio de lideranças locais,
instituições governamentais e não
governamentais e, sobretudo, dos
camponeses, que viam nesse modelo de
educação uma esperança frente aos
diversos desafios que enfrentavam.
A criação da AES como instituição
“multinacional”, de fato, garantiu que os
integrantes brasileiros conhecessem
experiências praticadas na Itália, como as
EFA’s. Além disso, permitiu também que
integrantes italianos conhecessem alguns
municípios do Espírito Santo. A vinda de
técnicos italianos ao interior capixaba fazia
parte da estratégia dos integrantes da AES
de constituírem uma entidade que fosse
articuladora de ações socioeconômicas no
solo espiritossantense. Dessa maneira,
cinco municípios Anchieta, Alfredo
Chaves, Iconha, Piúma e Rio Novo do Sul
foram mais especificamente analisados e
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escolhidos para as futuras instalações de
EFA’s (Nosella, 2012).
O Mepes, a princípio, desenvolveu
diversas experiências no campo de
fornecimento de serviços à população dos
camponeses, como construção de hospital,
criação de escola de turismo e de centro de
formação de profissionais em Pedagogia da
Alternância e, claro, a criação das EFA’s.
Mas é essa última experiência que se firma
como a principal forma de atuação do
Mepes, no que diz respeito ao atendimento
promocional dos camponeses:
A iniciativa das Escolas da Família
Agrícola que, nas intenções da
entidade, devia constituir apenas uma
iniciativa entre outras, na realidade
acabou sendo, juntamente com seu
Centro de Formação e Reflexão, a
iniciativa de maior vulto e a que
caracterizou significativamente a
própria Entidade. (Nosella, 2012, p.
35).
Os demais serviços propostos
continuaram a ser fornecidos, porém a
efetivação de uma proposta de educação do
campo, a partir dos fundamentos da
Pedagogia da Alternância, e o atendimento
específico aos povos do campo foi o que
realmente marcou a trajetória do Mepes no
campo da educação capixaba e nacional.
Atualmente, o Mepes mantém o
Centro de Formação e de Reflexão,
Creches, Departamento de Ação
Comunitária e as EFA’s, incluindo a
Escola Família de Turismo-Efatur, EFA
que oferta formação técnica em turismo:
O Mepes, desde sua fundação, atua
com ações integradas de Educação,
Saúde e Ação Comunitária. No que
se refere à educação, seu pioneirismo
advém da utilização da Pedagogia da
Alternância, desenvolvida pelas
Escolas Famílias Agrícolas (EFAs).
Atualmente existem 18 EFAs em
funcionamento, ofertando
anualmente 2.500 vagas em 13
cursos Médio-profissionalizantes e
em 09 cursos de Ensino
Fundamental, atendendo mais de
2.300 famílias, de 621 comunidades,
de 51 municípios. Além destas, atua
também na Educação técnico-
profissional em turismo,
hospitalidade e gastronomia no
município de Anchieta, com a Escola
Família Turismo “Pietrogrande”
EFTUR e na Educação infantil com o
trabalho de 04 creches. (Movimento
de Educação Promocional do Espírito
Santo-Mepes, 2016, p. 9).
As cinco décadas de existência do
Mepes, comemoradas no ano de 2018, são,
sem dúvida, um marco na educação do
campo capixaba e brasileira, porém não
tantos motivos para se comemorar. Apesar
da resistência do movimento frente às
duras investidas dos últimos governos, o
Mepes tem encontrado sérias dificuldades
de manutenção do quadro atual de
monitores e funcionários. Historicamente,
o estado do Espírito Santo assumiu a
responsabilidade de repassar uma verba
para o pagamento dos salários dos
monitores das EFA’s e funcionários do
quadro administrativo do Mepes, porém
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nunca foi criada uma lei que garantisse o
repasse dessa verba. Tal repasse sempre
aconteceu por meio de subvenções em
convênios assinados anualmente, de acordo
com o momento econômico do estado,
provocando nas EFA’s uma sensão
constante de instabilidade financeira, uma
vez que as contas do estado estão sujeitas a
todo tipo de impasse.
A partir de 2014, as subvenções por
meio de convênio com empresas privadas
pararam de existir e um outro critério
jurídico passou a ser adotado, com os
valores de repasse passando a ser definidos
a partir do custo aluno do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação - Fundeb. Tal
medida atingiu fortemente os integrantes
do movimento, que se viu diante da dura
realidade de demissões de profissionais e
da obrigatoriedade de redução da carga
horária, para que continuassem os
trabalhos desenvolvidos pelas escolas e
demais instituições que são assessoradas
pelo Mepes. Os cortes e demissões se
concentraram entre o final do ano de 2016
e início de 2017 e atingiram todas as
escolas do Mepes.
Ademais, os últimos acontecimentos
nos setores da economia e da educação têm
provocado o acirramento das tensões entre
monitores e a gestão do Mepes.
O surgimento das Escolas Famílias
Agrícolas do Espírito Santo
As EFA’s são instituições formais de
ensino que têm sua gênese atrelada ao
surgimento da Pedagogia da Alternância.
As primeiras Escolas Famílias Agrícolas
do Brasil surgiram no Estado do Espírito
Santo, especificamente nos municípios de
Anchieta e Alfredo Chaves. Mais tarde,
foram fundadas em outros munícipios das
regiões sul e norte do Estado, como
descreve Nosella:
No dia 9 de março de 1969, portanto,
as Escolas-Família-Agrícola de
Olivânia, município de Anchieta, e a
de Alfredo Chaves, receberam seus
primeiros alunos. Alguns meses
mais tarde, inaugura-se também a
Escola de Rio Novo do Sul. Em
março de 1971, é inaugurada a
Escola-Família de Campinho,
município de Iconha. No mês de
maio do mesmo ano, é a vez da
Escola-Família feminina de Iconha,
para as moças filhas dos
agricultores. Enquanto isso, outros
passos foram dados, por meio do
movimento pastoral da diocese de
São Mateus, para a expansão das
Escolas-Família ao Norte do Estado
do Espírito Santo. Em 1972, foram
inauguradas as Escolas-Família de
Jaguaré, no município de São
Mateus, e do Bley, no município de
São Gabriel da Palha, as duas para
rapazes. No mesmo ano, foi
inaugurada também a Escola-Família
de Economia Doméstica (feminina),
no município de São Mateus, Km.
41. (Nosella, 2012, p. 64-66).
Conforme discutido anteriormente, a
criação das EFA’s do Espírito Santo é
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resultado de um processo que se inicia com
a chegada de párocos italianos no Brasil,
que se depararam com escassas condições
de vida de imigrantes italianos em
propriedades rurais. Além das dificuldades
encontradas nos aspectos de produção
desses estabelecimentos, os agricultores
capixabas também sofriam com o descaso
dos governantes no que tangia à educação
dos seus filhos.
A proposta de criação de EFA’s no
Espírito Santo é oriunda do conhecimento
dos párocos italianos sobre as experiências
dessas instituições em seus países e das
visitas realizadas por demais membros da
AES à Itália, onde tiveram a oportunidade
de conhecer as EFA’s daquele país.
Não por acaso, diante da situação
diagnosticada pelos membros da AES,
propôs-se um modelo de instituição que
conseguisse dialogar com os dois grandes
problemas enfrentados pelos camponeses:
a dificuldade de produzir e de se manter
nas propriedades e, claro, o esquecimento
dos governos em relação à educação dos
filhos dos camponeses.
A expansão das Escolas Famílias no
Espírito Santo: o contexto local
As Escolas Famílias Agrícolas do
Estado do Espírito Santo são instituições
que estão, atualmente, mais voltadas para a
formação Técnica em Agropecuária e
dialogam bem com a missão educacional
explicitada pelo Mepes, pois de fato
buscam, em suas estratégias educacionais,
associar a formação técnica a uma forma
de agir localmente, no intuito de valorizar
os aspectos locais em sua formação.
Contudo, se almeja a
profissionalização do homem do campo, e
também uma forma de lhe possibilitar mais
autonomia em relação à economia, política,
educação, entre outros aspectos. Dessa
maneira, o homem e a mulher do campo
poderão desenvolver o meio em que vivem
de forma autônoma, por intermédio de suas
próprias mãos, mas não por meio de uma
ação individual e, sim, coletiva.
O Estado do Espírito Santo tem, em
sua história, as marcas de uma ocupação
conflituosa. Desde a resistência dos povos
indígenas à inserção de lavouras de cana,
até a luta dos pequenos agricultores contra
o avanço das lavouras de eucalipto,
podemos observar que:
O Espírito Santo, comparado com as
outras unidades federativas da região
sudeste do Brasil, passou por um
processo diferenciado de formação
econômica impulsionada pela
resistência indígena ao trabalho
escravo, característica marcante do
período colonial, que tinha como
base econômica as grandes
plantações de cana-de-açúcar. Sem
uma administração segura e eficiente,
a Capitania do Espírito Santo não
acompanhou o mesmo desempenho
da expansão da colonização
açucareira que acontecia em outras
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regiões do Brasil. (Mepes, 2015, p.
03).
Outra característica marcante da
ocupação do território capixaba é a forma
de divisão do Estado:
Vários fatores contribuíram para uma
ocupação diferenciada das terras do
Espírito Santo; cortado pelo Rio
Doce, o território capixaba esteve
inicialmente dividido em duas
grandes regiões com muitas
dificuldades para o transporte e
comunicação. (Mepes, 2015, p. 03).
Com diferentes regiões, o Estado do
Espírito Santo tem sua divisão simplificada
em regiões sul e norte, sendo que a
colonização dessas regiões também tem
suas especificidades:
A ocupação do interior foi marcada
pela diversidade econômica e
sociocultural das famílias que
chegavam ao seu território. No início
do século XIX, famílias migrantes
das regiões do Rio de Janeiro e de
Minas Gerais passaram a ocupar
várias extensões de terras na Região
Sul e a desenvolver culturas agrícolas
com base no trabalho escravo
africano e de afrodescendentes. Mas,
no final do século XIX, houve grande
imigração da Alemanha e Itália,
estimulada pelo estado, para ocupar
pequenas glebas de terras,
desenvolvendo ali relações de
trabalho familiar. Mais tarde, na
medida em que foi exigida a
expansão da fronteira agrícola, essa
organização familiar passou a ocupar
as terras mais ao norte do estado.
(Mepes, 2015, p. 03).
No que tange às EFA’s, nesse
contexto, são instituições que se inserem
em um determinado lócus geográfico, a
partir de uma demanda local, geralmente
de uma associação de agricultores. Essa
característica, comum a praticamente todas
as EFA’s, é também uma condição para a
existência das mesmas, pois a ausência de
uma associação local causa, por exemplo,
uma prática mais convencional dentro das
escolas, uma vez que, sem ou com pouca
participação da comunidade escolar, os
interesses das demais esferas da gestão se
sobressaem. Outra característica
interessante das EFA’s é que se propõem a
realizar a formação dos membros da
associação, auxiliando em questões
burocráticas e técnicas, uma vez que seria
ingenuidade imaginar que esses membros
da associação teriam todos eles
condições de tomar as decisões
administrativas em uma escola.
As primeiras EFA’s do Espírito Santo
se concentraram na Região Sul, devido à
presença mais marcante de imigrantes
italianos naquela parte do estado. Somente
três anos após a criação das primeiras
EFA’s no Sul, nos municípios de Anchieta,
Mimoso do Sul e Iconha é que se criam as
EFA’s de São Mateus e São Gabriel da
Palha, no de 1972.
Para além das questões de tempo que
envolvem a criação das EFA’s, se
apresentam as características das regiões
onde ocorreu a expansão. A divisão
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"cultural" em Norte e Sul revela territórios
distintos, desde a geografia, a cultura, a
origem dos povos, até a produção. Como
citado acima, o primeiro território a ser
ocupado foi o Sul, por famílias que
migravam do Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Essas famílias tinham a mão de
obra escrava de africanos e afro-
brasileiros, porém esse território foi
fortemente caracterizado pela ocupação
das famílias de imigrantes italianos e
alemães no final do século XIX.
Atualmente, na Região Sul,
encontram-se as EFA’s de Ibitirama, São
João do Garrafão, Alfredo Chaves,
Olivânia, Campinho, Rio Novo do Sul,
Castelo, Belo Monte e Cachoeiro de
Itapemirim, além do Centro de Formação e
Reflexão.
O território Norte teve a sua ocupação
com características mais específicas ainda,
devido à existência de municípios
colonizados e ocupados por uma população
formada por descendentes de escravos,
portugueses e índios, segundo Cazali e
Pizeta citado por Mepes:
O processo de territorialização do
Norte Capixaba, dentro dos moldes
postos pela lógica da colonização,
tem sua origem no final do século
XIX. Exceto São Mateus e
Conceição da Barra, os demais
municípios foram ocupados e
desbravados mais especificamente a
partir dos anos 30. Esse processo
ficou conhecido como segunda
migração dos povos europeus para o
Norte em busca de terra. O Norte
Capixaba era uma espécie de
“eldorado”. (Mepes, 2015, p. 03 apud
Cazali & Pizeta, 2005).
Os territórios da Região Norte do
Espírito Santo ainda hoje são muito
caracterizados pela presença de povos
europeus, italianos e alemães, e
descendentes de africanos ou afro-
brasileiros. Tal característica torna a região
bem diversificada. Por sua vez, as EFA’s
se diferenciam quanto ao público atendido,
cultura, forma de organização e produção
local. A respeito dessa ocupação,
comentam Cazali e Pizeta, citados por
Mepes:
Um espaço bom para ser ocupado.
Descendentes de italianos, alemães e
pomeranos saíram de alguns
municípios do Sul do Estado, como
Santa Leopoldina, Afonso Cláudio,
Cachoeiro de Itapemirim e Castelo e
foram formando comunidades nos
atuais municípios de São Gabriel da
Palha, Nova Venécia, Rio Bananal,
Vila Valério, Vila Pavão,
Governador Lindemberg, São
Domingos etc. (Mepes, 2015, p. 03
apud Cazali & Pizeta, 2005).
Na Região Norte, encontram-se
atualmente as EFA’s de Vinhático
(Montanha), Pinheiros, Boa Esperança, do
Km 41 (São Mateus), Chapadinha (Nova
Venécia), Jaguaré, Bley (São Gabriel da
Palha), Rio Bananal e Marilândia.
Devido ao processo de
territorialização do Estado, as EFA’s da
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Região Norte apresentam características
diferentes quanto à participação das
famílias. A diversidade de origem das
mesmas e os conflitos pela terra
permitiram, ali, a instalação de
movimentos sociais que lutam pelos
direitos dos trabalhadores rurais. Os ideais
e filosofias dos movimentos sociais como
MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) e MPA (Movimento dos
Pequenos Agricultores) adentraram as
EFA’s, nessa região, e mudaram a
característica de organização e de
participação das famílias. A respeito dessa
ocupação do Norte, comentam Cazali e
Pizeta, citados por Mepes:
No processo de ocupação do Norte
capixaba, ficam evidentes dois
interesses antagônicos: de um lado, o
interesse de apropriação dos bens da
natureza, por meio do extermínio das
tribos indígenas, invasões, extração
de madeireira e expansão do
latifúndio; por outro, o interesse dos
camponeses que queriam o acesso a
terra com objetivo da produção
alimentar. (Mepes, 2015, p. 03 apud
Cazali & Pizeta, 2005).
As características de ocupação e
territorialização do Estado do Espírito
Santo são fundamentais para a
compreensão da expansão das EFA’s.
Devido à forte participação das famílias no
processo educativo dos filhos e na gerência
da escola, essas características de formação
do espaço se refletem dentro das escolas,
no comportamento dos jovens, na forma de
organização e de produção dos
agricultores, cultura e economia local.
Como o campo de atuação de uma EFA
não se restringe ao seu espaço escolar, todo
o seu entorno, tudo que acontece nele
precisa ser bem compreendido para que a
própria EFA seja mais facilmente
decifrada.
A forte aceitação das famílias,
associada ao constante empenho dos
profissionais da Pedagogia da Alternância,
permitiu a rápida expansão das EFA’s para
praticamente todo o território do estado do
Espírito Santo. As EFA’s se consolidaram
como instituições da rede Mepes,
mantendo as características de escolas
filantrópicas, ou seja, privadas, porém sem
fins lucrativos. As escolas da rede Mepes
recebem recursos do estado apenas para o
pagamento dos salários dos professores e
profissionais do quadro administrativo. A
manutenção das escolas se a partir de
parcerias com as prefeituras e famílias, que
contribuem com uma taxa fixa a cada
sessão escolar (tempo escola).
No entanto, não são apenas as
escolas do Mepes que ofertam a Pedagogia
da Alternância no estado do Espírito Santo.
Outras formas de oferta dessa pedagogia se
desenvolveram, ao longo dos anos, na
região, como é o caso das Escolas
Comunitárias Rurais-Ecor, que são
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mantidas pelas prefeituras municipais.
Essas experiências, atualmente, são as mais
desenvolvidas e praticadas no Estado do
Espírito Santo.
Os Ceffa’s (Centros Familiares de
Formação em Alternância) e a Raceffaes
(Regional das Associações dos Centros
Familiares de Formação em Alternância
do Espírito Santo)
A construção de uma proposta de
Educação do Campo para e com os
camponeses, que de fato fosse de
pertencimento dos povos do campo, é um
processo histórico que perpassa por
questões pedagógicas, políticas, culturais,
técnicas, dentre outras, não sendo possível
essa construção sem a percepção da
interligação dessas questões.
Nesse contexto, insere-se a
Raceffaes, instituição que articula todas as
outras instituições que desenvolvem a
Pedagogia da Alternância no Norte e
Noroeste do Espírito Santo.
Para a construção desse fragmento de
nosso texto, vamos nos referenciar em uma
obra elaborada pelos próprios educadores
da Raceffaes, intitulada Cultivando a
Educação dos Povos do Campo do Espírito
Santo, publicada em 2015, e na nossa
vivência, ao longo dos seis anos na
instituição a que esse texto se refere.
Como vimos, o termo mais usual
para se reportar a uma instituição que
oferta a Pedagogia da Alternância no
Estado do Espírito Santo é Escola Família
Agrícola. A utilização do termo não causa
estranhamento, uma vez que a gênese da
Pedagogia da Alternância no Estado são as
EFA’s criadas pelo Mepes que, durante
muitos anos, foram as principais
referências das práticas educativas do
modelo de pedagogia citado acima.
Atualmente, encontram-se no
Espírito Santo diversas experiências em
Educação do Campo. As que estão
relacionadas ao desenvolvimento da
Pedagogia da Alternância são denominadas
Ceffa’s Centros Familiares de Formação
em Alternância. Tal termo tem sido
utilizado em todo o país para se referir a
todas as instituições que têm a sua prática
pedagógica ditada pelos princípios da
Pedagogia da Alternância.
O termo Ceffa tem sua origem em
convenção realizada pela Unefab União
Nacional das Escolas Famílias Agrícolas
do Brasil , Associação das Casas
Familiares Rurais (Arcafar) e pelo
Programa Nacional de Inclusão de Jovens -
ProJovem.
Recuperando o resumo histórico,
lembramos que as primeiras experiências
com a prática da Pedagogia da Alternância,
no Brasil, ocorreram no Estado do Espírito
Santo. Tais experiências eram motivadas
por párocos italianos, portanto as EFA’s
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que aqui se desenvolveram eram
fortemente marcadas pelas características
das EFA’s da Itália. Logo em seguida, no
Estado de Pernambuco, criaram-se as
CFR’s - Casas Familiares Rurais, um outro
modelo de Pedagogia da Alternância, que
mantinha as características do modelo
francês. Nota-se que, desde as primeiras
iniciativas de implantação da Pedagogia da
Alternância no Brasil, diferenças nas
formas de desenvolvimento dessa proposta
pedagógica.
À medida que a Pedagogia da
Alternância foi se expandindo para outros
países, a partir do seu surgimento na
França, outras características foram
incrementadas no modelo, características
locais, de tempo, de economia, cultura,
produção entre outras. No Brasil, a
Pedagogia da Alternância também adquiriu
características próprias, sendo que,
atualmente, existem os modelos de Escolas
Comunitárias Rurais, mais conhecidas
como Ecor, Escola Municipal Comunitária
Rural - Emcor ou Escola Comunitária
Rural Municipal Ecorm. Tais escolas são
mantidas pelo poder público e ofertam as
séries iniciais e finais do Ensino
Fundamental. Toda essa diversidade de
experiências tem sido identificada como
Ceffa em espaços de formação,
universidades, audiências e em
documentos apresentados a órgãos
públicos, porém, no presente trabalho, foi
mantido o termo EFA, para se referir a
Escola Família Agrícola, por se tratar,
aqui, apenas dessa experiência.
A Raceffaes, que, enquanto
instituição, tem sua criação datada do dia
22 de abril de 2003, foi criada com o
objetivo de assegurar a unidade político-
pedagógica das instituições que ofertam a
Pedagogia da Alternância no Norte do
Estado e, atualmente, agrega 29 Ceffa’s,
“abrangendo escolas públicas estaduais e
municipais, nelas incluídas as EFA’s e as
Escolas Comunitárias Rurais (Ecor, ou
Emcor e Ecorm, se a vinculação for
municipal), além das escolas filantrópicas,
privadas, portanto, que adotam a
Pedagogia da Alternância no Ensino
Fundamental e/ou Ensino Médio”.
(Regional das Associações dos Centros
Familiares de Formação em Alternância -
Raceffaes, 2015, p. 49).
Conforme explicitado anteriormente,
os Ceffa’s do Estado do Espírito Santo se
dividem em dois modelos: os de
vinculação privada, no caso das escolas da
rede Mepes, que são privadas sem fins
lucrativos, ou seja, filantrópicas, que
podem receber recursos públicos e também
podem acordar taxas de manutenção com
as famílias; e os de vinculação totalmente
pública, ou seja, aqueles mantidos pelo
poder público, que não cobram taxas e cuja
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manutenção é garantida pelo poder
público. No Estado do Espírito Santo,
destacam-se as instituições que ofertam a
Pedagogia da Alternância e são mantidas
pelo poder público municipal. Vale
ressaltar que o fato de as escolas serem
mantidas pelas prefeituras não garante a
elas uma tranquilidade em relação à
manutenção e, sobretudo, a investimentos.
A fim de melhor esclarecer essa
diversidade de instituições que ofertam a
PA e suas diferentes mantenedoras no
Estado do Espírito Santo, Santos e Silva
(2015) fizeram um agrupamento de todos
os Ceffa’s, relacionando-os com suas
mantenedoras e evidenciando se têm ou
não relação com a Raceffaes (Santos &
Silva, 2015, p. 101-102). Segue, no quadro
1, a relação de todos os Ceffa’s do estado
do Espírito Santo.
Quadro 1- Classificação dos Ceffa’s tendo como referência a mantenedora e o nível de ensino.
Mantenedora
Escolas
Nível de Ensino
Filiada à
Raceffaes
Região do
Estado
Mepes
EFA de Rio Bananal
Fundamental
Sim
Norte
EFA do Km 41 -
São Mateus
Fundamental
Sim
Norte
EFA de Pinheiros
Fundamental
Sim
Norte
EFA de Chapadinha
- Nova Venécia
Médio
Profissionalizante
Sim
Norte
EFA de Boa
Esperança
Médio
Profissionalizante
Sim
Norte
EFA de Vinhático -
Montanha
Fundamental e
Médio
Profissionalizante
Sim
Norte
EFA do Bley- o
Gabriel da Palha
Fundamental e
Médio
Profissionalizante
Sim
Norte
EFA de Jaguaré
Médio
Profissionalizante
Sim
Norte
EFA de Alfredo
Chaves
Fundamental
Não
Sul
EFA de Olivânia,
Anchieta
Fundamental e
Médio
Profissionalizante
Não
Sul
EFA de Castelo
Fundamental
Não
Sul
EFA de Campinho,
Iconha
Fundamental
Não
Sul
EFA de Rio Novo do
Sul
Fundamental
Não
Sul
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EFA de São Jo do
Garrafão - Santa
Maria de Jetibá
Fundamental
Não
Sul
EFA de Marilândia
Fundamental
Não
Sul
EFA de Belo
Monte, Mimoso do Sul
Fundamental
Não
Sul
Escola Família de
Turismo, Anchieta
Médio
Profissionalizante
Não
Sul
Governo
Municipal
EFA de Barra de
São Francisco
Fundamental
Sim
Norte
EFA Jacira de Paula
Meniguete - Barra
de São Francisco
Fundamental
Sim
Norte
Ecor de Japira -
Jaguaré
Fundamental
Sim
Norte
Ecor Falia Rural de
Ecoporanga
Fundamental
Sim
Norte
Ecor de Giral -
Jaguaré
Fundamental
Sim
Norte
Ecor de São João
Bosco - Jaguaré
Fundamental
Sim
Norte
EFA de
Mantenópolis
Fundamental
Sim
Norte
EFA Agroecológica
de Colatina
Fundamental
Sim
Norte
EFA de São Bento
do Chapéu,
Domingos
Martins
Fundamental
Não
Serrana
EFA de Brejetuba
Fundamental
Não
Serrana
Fonte: Santos e Silva (2015, p. 101-102 apud Mepes, 2014).
A Raceffaes, enquanto instituição
articuladora dos Ceffa’s, tem seu campo de
atuação limitado aos Ceffa’s da Região
Norte do Espírito Santo. Essa delimitação
geográfica, conforme explicitado
anteriormente, é característica do Estado e
é localmente identificada pelos municípios
que se encontram na margem esquerda do
Rio Doce, até os limites do Estado em suas
diferentes divisas. As Escolas Famílias
Agrícolas e as demais instituições que
ofertam a Pedagogia da Alternância, na
Região Sul do Estado, têm como
articulador o próprio Mepes.
A Raceffaes informa que sua missão
é:
Promover articulação e integração
dos Ceffa’s, visando a manter a
unidade político-pedagógica, com
base nos princípios filosóficos e
pedagógicos da Pedagogia da
Alternância. Afirmando a educação
como um direito constitucional de
todos, a Raceffaes define a expansão
da Pedagogia da Alternância pela via
pública como prioridade em suas
ações. (Raceffaes, 2015, p. 51).
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A expansão da Pedagogia da
Alternância no Estado do Espírito é uma
prova de que a Educação do Campo se
desenvolve a partir de metodologias
apropriadas à realidade dos povos do
campo. Tal pedagogia se desenvolveu, no
Estado, a partir das Escolas Famílias
Agrícolas da rede Mepes. A presença da
Igreja Católica no modelo de
desenvolvimento proposto por essas
escolas é facilmente identificada, quando
analisado o processo histórico do Mepes,
que se a partir da relação da Igreja
Católica com os povos do campo na
década de 60. A esse respeito, afirma a
Raceffaes:
Relembrando a primeira EFA
brasileira, verificamos sua vinculação
com o Mepes e, consequentemente,
com a Igreja Católica, especialmente
nas primeiras escolas, e pela atuação
das Comunidades Eclesiais de Base
na expansão do projeto pelo país.
(Raceffaes, 2015, p. 51).
A própria criação da Raceffaes é uma
medida que visa à construção de um
projeto de educação laica, no qual a
religião não tenha tanto peso na tomada de
decisões, característica oposta à
comumente detectada em escolas que se
encontram mais próximas da Igreja. A
criação da Raceffaes traz à tona um debate
que está presente desde os primórdios da
Pedagogia da Alternância: a natureza laica
ou religiosa das EFA’s. (Raceffaes, 2015,
p. 51).
A partir da criação da Raceffaes, as
Escolas Famílias Agrícolas do Norte do
Estado tiveram mais autonomia para se
posicionar em relação ao tipo de Pedagogia
da Alternância que estavam dispostas a
desenvolver. A criação dessa instituição
elevou o protagonismo de monitores nos
processos educativos, pois estes se
tornaram de fato os principais agentes do
percurso pedagógico da escola, tendo
participação efetiva na construção dos
Planos de Cursos e na articulação para
formação e efetivação dos temas de
estudos a serem trabalhados.
Nos dias atuais, os monitores das
EFA’s se reúnem periodicamente para
alinhar os conteúdos do Plano de Curso e
para se aprofundarem mais nos temas de
estudo das disciplinas que lecionam. A
participação em espaços como esse se
torna possível a partir da criação da
Raceffaes, pois esta é a responsável por
articular a participação dos monitores na
construção do Plano de Curso, no
planejamento de atividades coletivas para
serem desenvolvidas nas escolas de mesma
região, como oficinas, cursinhos e no
próprio planejamento dos Planos de
Estudo.
A Raceffaes, atualmente, é a
principal responsável pela unidade
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pedagógica das EFA’s e das demais
instituições que ofertam a Pedagogia da
Alternância no norte do estado do Espírito
Santo. As principais estratégias
pedagógicas e políticas dos Ceffa’s são
definidas a partir da articulação da
Raceffaes, que é composta pelos próprios
monitores e professores da Pedagogia da
Alternância. Esses sujeitos se reúnem
anualmente, por área de conhecimento,
para discutir e definir as estratégias
pedagógicas que serão adotadas durante
um determinado período de tempo. O
objetivo dessa articulação é dar unidade e
subsídios aos monitores e professores das
áreas de conhecimento.
O Mepes, por sua vez, atua como
mantenedor das EFA’s, cuidando, de forma
quase que restrita, das questões de
convênios para pagamentos dos
profissionais, sem ter um papel efetivo em
relação aos procedimentos pedagógicos
das EFA’s, apesar de ser o responsável por
todas as questões jurídicas das escolas.
As escolas que são mantidas pelo
poder público têm as secretarias de
educação como responsáveis por seu
percurso pedagógico, porém, para
conseguirem desenvolver a Pedagogia da
Alternância dentro dos princípios que esta
prescreve, contam com o apoio dos
educadores das EFA’s que, em muitas
ocasiões, são os únicos com competência
para orientar as atividades, pois os
educadores das secretarias não possuem
formação específica para fazerem essa
orientação. Ou seja, atualmente, não existe
um programa de formação específico para
atuar na Pedagogia da Alternância. De
fato, mesmo havendo, por parte dos
profissionais, o entendimento de que essa
formação é essencial, ela não existe.
Dessa maneira, a estratégia adotada é
a formação continuada, que é
compreendida, pelas razões apontadas
anteriormente, como fundamental para a
atuação nos Ceffa’s. Essa formação
contribui para o alinhamento do nível de
compreensão da Pedagogia da Alternância.
A Raceffaes desenvolve, continuamente,
cursos de formação básica para monitores,
para os monitores que estão iniciando, e
pelo menos dois encontros regionais para
formação dos demais monitores, além de
outros programas de aprofundamento para
os mais experientes.
Considerações finais
O surgimento das Escolas Famílias
Agrícolas permitiu que os filhos de
agricultores encontrassem um espaço onde
pudessem refletir sobre questões de sua
realidade e, a partir daí, lograssem ter a
oportunidade de interferir nessa realidade.
As EFA’s se consolidaram não apenas
como escolas no campo, mas também
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como espaços para que se discutissem
todas as questões relacionadas ao campo,
como política, cultura, lazer, produção e,
claro, educação.
As EFA’s, inegavelmente, deram um
sentido aos processos educativos que
ocorriam no campo e contribuíram
sobremaneira para o entendimento de uma
educação do campo e não apenas no
campo, uma educação que não fosse
apenas para os camponeses e, sim, com os
camponeses, uma educação que fosse, de
fato, de pertencimento desses sujeitos do
campo.
Importante destacar que a expansão
da Pedagogia da Alternância, no Norte do
Estado do Espírito Santo, se deu a partir
das reivindicações dos agricultores e dos
movimentos sociais, que exigiram do
poder público uma educação que fosse
condizente com as necessidades dos povos
do campo. A adoção da Pedagogia da
Alternância pelo poder público permitiu
que uma maior quantidade de filhos de
camponeses fosse contemplada com um
modelo de pedagogia apropriado à
realidade do campo e que o
desenvolvimento dessa pedagogia se desse
com menos influência da Igreja Católica,
principalmente nas EFA’s que, por terem
sua criação ligada a membros da igreja,
acabaram sofrendo influência desta em
suas práticas pedagógicas.
Desde a criação da AES e,
posteriormente, do Mepes, das EFAs’ e da
Raceffaes, são cinquenta anos percorridos.
Durante esse tempo, a Pedagogia da
Alternância se firmou no estado do
Espírito Santo como a principal estratégia
pedagógica para os povos do campo. As
EFA’s, por sua vez, foram, durante muito
tempo, a maior expressão da Pedagogia da
Alternância no estado. Ainda hoje, as
EFA’s são as maiores referências da
prática mais tradicional da Pedagogia da
Alternância, conseguindo desenvolver os
seus instrumentos pedagógicos, firmes na
luta pelos direitos dos camponeses a uma
educação de qualidade.
As características de filantropia do
Mepes dificultaram uma maior expansão
desse modelo, o que forçou o poder
público a ofertar a Pedagogia da
Alternância. Atualmente, existem mais
profissionais, estudantes e
estabelecimentos de ensino que ofertam a
Pedagogia da Alternância mantidos pelo
poder público, do que nas escolas do
Mepes. Tal circunstância não representa
uma falência do modelo de CEFFA’s
desenvolvido pelo Mepes. Ao contrário, as
EFA’s estão mais vivas do que nunca, são
ainda as maiores referências da prática da
Pedagogia da Alternância à qual esse texto
se refere. Nas EFA’s ainda se encontram
os profissionais que viveram a história da
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sua constituição, carregando as lembranças
e mantendo vivas as memórias das lutas.
Porém, é inegável que esse formato
proposto pelo Mepes tende a não se
expandir, devido exatamente ao fato de
haver pouca participação do poder público
nesse modelo, principalmente no que diz
respeito à estrutura e manutenção. Prova
contundente disso é que as EFA’s até hoje
dependem da contribuição das famílias
para a manutenção da alimentação dos
jovens durante a sessão escolar, o que
provoca uma percepção nas comunidades
locais de que se trata de um modelo
particular, dificultando, assim, o acesso das
famílias mais carentes. Contraditoriamente,
é o mesmo poder público que se apresenta,
atualmente, como a esperança de
ampliação da oferta da Pedagogia da
Alternância no Estado do Espírito Santo.
Nesse contexto, as EFA’s têm procurado
ampliar os convênios com as prefeituras,
pois é principalmente na adoção da prática
da PA pelas escolas do campo que se firma
essa presença do poder público, tanto
municipal quanto estadual, e que também
se constituem as bases para a ampliação da
oferta da Pedagogia da Alternância para os
povos do campo capixaba.
Referências
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Espírito Santo. (2015). Processo de
Solicitação de Renovação de Oferta do
Curso da Educação Profissional Técnica de
Nível Médio. Escola Família Agrícola de
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Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo. (2016) “Plano de
desenvolvimento Institucional”, Escola
Família Agrícola de Chapadinha, ES.
Nosella, P. (2012). Origens da Pedagogia
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Regional das Associações dos Centros
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Sobreira, M. F. C., & Silva, L. H. (2014).
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Espírito Santo. Recôncavo, Revista de
História da UNIABEU, 5(8), 96-115.
Zamberláni, S. (2015). A história do
MEPES contada por quem ajudou a fundar.
Disponível em
http://www.espiritosantonoticias.com.br/a-
historia-do-MEPES-contada-por-quem-
ajudou-a-fundar/
Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 19/07/2019
Aprovado em: 14/10/2019
Publicado em: 19/12/2019
Received on July 19th, 2019
Accepted on October 14th, 2019
Published on December, 19th, 2019
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
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Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Bruno Raphael Mont Alto Santos
http://orcid.org/0000-0001-9461-1037
Sandra Regina Gregório
http://orcid.org/0000-0001-9935-3479
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Mont’Alto-Santos, B. R., & Gregório, S. R. (2019).
Histórico da constituição das Efa’s do Estado do Espírito
Santo. Rev. Bras. Educ. Camp., 4, e7211. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7211
ABNT
MONT’ALTO-SANTOS, B. R.; GREGÓRIO, S. R. Histórico
da constituição das Efa’s do Estado do Espírito Santo.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 4, e7211,
2019. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7211