Journal of Biotechnology and Biodiversity | v.7 | n.2 | 2019

Journal of Biotechnology and Biodiversity
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Avaliação do crescimento inicial das mudas de Tabebuia serratifolia (ipê amarelo) sob diferentes regimes hídricos
Marcos Cardoso Silva a*, Danilo Maciela, Maria Cristina Bueno Coelhoa, Marcos Giongoa , José Fernando Pereiraa, André Ferreira dos Santos a
a Universidade Federal do Tocantins, Brasil
* Autor correspondente (markuz@uft.edu.br )
I N F O A B S T R A C T
Keyworks
hydrical stress germination
Evaluation of the initial growth of Tabebuia serratifolia (ipê amarelo) seedlings under different water regimes.
The objective of this work was to evaluate the initial growth of Tabebuia serratifolia (Ipê Amarelo ) seedlings under different water regimes, in order to find the one that best fits the species in the initial phase of growth. The following equipment was used to measure dendrometric variables, namely: digital caliper to measure DAC (Neck Height Diameter) and millimeter ruler to measure seedling height. The design used was a completely randomized design (DIC) where 6 replications were performed with 5 treatments in a total of 30 individuals, submitted to various water stress, and a control. It was conclude d that the seeds of Ipê Amarelo have capacity to adapt to moderate water stress, presenting potential to be successfully used in some phases of degraded areas recovery; however, severe water deficit can affect the onset of germination and delay its develop ment.
R E S U M O
Palavras- chaves
estresse hídrico germinação
Este trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento inicial das mudas de Tabebuia serratifolia (ipê amarelo) sob diferentes regimes hídricos, de forma a encontrar o que melhor se adapta para a espécie em fase inicial de crescimento. Foram utilizados os seguintes equipamentos para a mensuração das variáveis dendrométricas sendo elas: paquímetro digital para medir DAC (Diâmetro Altura do Colo) e régua milimétrica para medir a altura das mudas. Odelineamento utilizado foi DIC (Delineamento Inteiramente Casualizado) onde realizou-se 6 repetições com 5 tratamento num total de 30 indivíduos, submetidas a diversos estresse hídrico, e uma testemunha. Concluiu-se que as sementes de Ipê Amarelo apresentam capacidade de adaptação ao estresse hídrico moderado, apresentando potencial para ser utilizada com sucesso em algumas fases da recuperação de áreas degradadas; contudo, o déficit hídrico severo pode afetar o início da germinação e atrasar seu desenvolvimento.
© 2019 Journal of Biotechnology and Biodiversity ISSN: 2179- 4804
DOI: https://doi.org/10.20873/jbb.uft.cemaf.v7n2.silva
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INTRODUÇÃO
A intensificação das atividades antrópicas tem acelerado a destruição dos ecossistemas e, conse- quentemente, a perda da biodiversidade no planeta, implicando não apenas na interrupção da integri- dade dos ciclos biológicos, como também, colo- cando em risco a própria sobrevivência humana (Batista, 2008).
A espécie Tabebuia serratifolia (ipê-amarelo) é uma espécie de ampla distribuição no território bra- sileiro, ocorrendo na região Amazônica, no Cer- rado, na Caatinga e no Pantanal Mato- Grossense (Pott e Pott, 1994). A rica flora do Cerrado é cons- tituída de inúmeras espécies, dentre elas está a es- pécie Tabebuia serratifolia, conhecida popular- mente como ipê amarelo do cerrado. Dentre os gê- neros que mais se destacam na família das Bigno- niáceas, podem ser citados: Cybistax sp., Tabebuia sp. e Zeyheria sp. (Bittencourt Júnior, 2003). Geralmente as espécies da Caatinga, Cerrado, entre elas a Tabebuia serratifolia, apresentam adap- tações morfológicas e/ou fisiológicas que possibili- tam a sobrevivência em condições de seca. A ad ap- tação à falta de água durante vários meses do ano se mostra na forma, na cor, no metabolismo, nos ciclos vitais e organização social de todos os orga- nismos desse bioma (MAIA, 2004). As plantas que habitam regiões de clima árido e semiárido apre- sentam várias estratégias para sobreviverem em condições de déficit hídrico.
A disponibilidade de água é tida como o princi- pal fator limitante do potencial de estabelecimento das plantas, sobretudo no início do ciclo de vida (Nazário, 2006). Segundo Taiz e Zeiger (2004), o déficit hídrico pode ser definido como todo conte- údo de água de um tecido que está abaixo do con- teúdo de água mais alto exibido no estado de maior hidratação.
Quando as plantas sofrem estresse hídrico, para evitar a desidratação essas fecham os estômatos re- duzindo drasticamente a transpiração, já que a maior parte é transpiração estomática (Taiz e Zei- ger, 2009). Além disso, certas plantas podem, jun- tamente com a redução do potencial hídrico do solo, promover uma maior redução no potencial da folha de forma a manter a diferença de potencial e continuar com os estômatos abertos por um maior período sem água. Essas plantas são comumente denominadas de plantas investidoras (LARCHER, 2000).
Sendo assim, o presente estudo tem como obje- tivo avaliar o crescimento inicial (em altura e diâ- metro) de mudas de Tabebuia serratifolia sob dife- rentes condições hídricas .
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na área experimental da Universidade Federal do Tocantins (UFT), cam- pus universitário de Gurupi, localizado na região sul do estado do Tocantins, compreendido pelas co- ordenadas 11° 37’ 30” de latitude e 49° 07’ 30” de longitude.
A caracterização climática local consiste em C2wA’a’’, clima úmido sub-úmido com moderada deficiência hídrica no inverno, evapotranspiração potencial média anual de 1.500 mm, distribuindo - se no verão em torno de 420 mm ao longo dos três meses consecutivos com temperatura mais elevada (SEPLAN, 2012)
As sementes utilizadas que foram coletadas no início do mês de outubro de 2012 de apenas uma árvore matriz localizada na BR-153, no município de Gurupi (TO), foram armazenadas em um recipi- ente de vidro, local fresco para que não percam sua viabilidade que é baixa.
As sementes passaram por um processo de este- rilização através da imersão em hipoclorito de só- dio 1% por 30 segundos e enxágue em água desti- lada, por 30 segundos.
Foram utilizados os seguintes equipamentos para a mensuração das variáveis dendrométricas: paquímetro digital para medir o diâmetro à altura do colo (DAC) e régua milimetrada para medir a altura das mudas.
O delineamento utilizado foi inteiramente casu- alizado (DIC) onde realizaram-se 5 tratamento s com 6 repetições cada, totalizando 30 indivíduos, submetidos a diversos estresses hídricos, e uma tes- temunha (Figura 1).
Para realização da análise estatística das amos- tras dos DAC's das plântulas, foi desenvolvido um estudo da classe diamétrica, através do programa ASSISTAT. A tabela 1 apresenta os tratamentos testados no experimento e a respectiva disponibili- dade hídrica para cada tratamento.
Tabela 1 - Diferentes tratamentos utilizados no ex- perimento de desenvolvimento inicial de mudas de Tabebuia se rratifolia.
Atolerância da planta ao déficit hídrico é um im- portante mecanismo de resistência, garantindo o crescimento e a produção de biomassa em condi- ções de baixa disponibilidade de água (GOMES et al., 2004).
TRATAMENTO T1
Tratamento 2 Tratamento 3 Tratamento 4
IRRIGAÇÃO 200 ml 100 ml 50 ml 20 ml
Tratamento 5 0 ml
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As figuras 1 e 2 apresentam como foram classi- ficadas as mudas de cada tratamento levando em
consideração a disponibilidade hídrica para cada tratamento.
Figura 1 - Croqui demonstrativo dos tratamentos indicando as diferentes quantidades de água utilizada na irri- gação das mudas.


Figura 2 - Quantidade de água retida por tratamento .
O experimento foi desenvolvido em ambiente protegido em casa de vegetação onde o substrato era composto por: em terra de subsolo, esterco bo- vino, casca de arroz carbonizada na proporção 2:1:1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os tratamentos 1, 2 e 4 foram os que apre senta- ram melhores resultados, já o tratamento 3 uma se-
massa seca, assim como no crescimento das plân- tulas, pode ser explicada pela diminuição no meta- bolismo das sementes, em função da menor dispo- nibilidade de água para digestão das reservas e translocação de produtos metabolizados (Bewley e Black, 1994 ).
A tabela 2 apresenta a análise de variância para a variável altura (em centímetros) para as mudas de Tabebuia serratifolia.
mente não germinou, Nazário (2006), explica que muitas sementes mesmo após serem colocadas em condições favoráveis como temperatura, oxigênio e
Tabela 2 - Análise de variância para altura . FV GL SQ QM
F
água, podem não germinar, assim como pode ser impedido devido à presença de um tegumento duro. O tratamento 5 não recebeu nenhuma dosagem de água por ser a testemunha, de forma que as se-
Tratamentos Resíduo Total
4 389,6 97,4 35,1* 25 69,4 2 ,8
29 458, 9
mentes das 6 repetições não germinaram por falta de condições favoráveis para o seu desenvolvi- mento.
Taiz e Zeiger (2009) relataram que o primeiro efeito mensurável do estresse hídrico é a diminui- ção no crescimento, causada pela redução da ex- pansão celular. Além disso, essa redução na bio-
* significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0.05)
Pela análise de variância notamos que existe di- ferença significativa dos valores da altura do colo em função dos tratamentos utilizados, ou seja, in- dica que de acordo com a retenção de água existe maior ou menor estresse da muda.
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A tabela 3 apresenta os dados das alturas médias mensais (em centímetros) para as mudas de Tabe- buia serratifolia .
Tabela 5 - Análise de variância para a variável diâ- metro a altura do colo (cm) para mudas de Tabe- buia serratifolia aos 4 meses (Fonte: autor).
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade para avaliar a diferença estatística entre as médias de altura das mudas de Tabebuia serratifolia, como mostra a tabela 4 .
FV
Tratamento Resíduo Total
GL SQ QM F 4 34,40 8,60 28, 39* 25 7,57 0, 30
29 41,9 7
Tabela 3 - Média de altura mensal (cm) por t rata- mento.
Tratamento Jan. Fev. Mar. Abr . 1 0 3 6,83 9,5
** significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0.05)
Pela análise de variância notou-se que houve di- ferença significativa dos valores do diâmetro altura do colo em função dos tratamentos utilizados, ou
2
3
4
0
0
0
4,6 7,3 11,3 7,3 14,16 19,3 6,5 13 16,83
seja, indica que de acordo com a retenção de água existe maior ou menor estresse.
Para comparar os diferentes tratamentos foi rea- lizado o teste de Tukey para comparar as médias
5
0
0
0
0
dos tratamentos testados, como pode ser observado na tabela 6.
Tabela 4 - Resultado do teste de Tukey (p< 0,05) para a variável altura (cm) no final do mês de abril .
Tratamento Médias 1 4,80 b 2 5,83 b 3 10,21 a
Tabela 6 - Médias obtidas no teste Tukey (p<0,05) para a variável diâmetro à altura do colo (cm).
Tratamento Médias 1 2,08 b 2 2,08 b 3 3,25 a
4
5
9,12 a 0,00
4
5
2,35 ab 0,0 c
As médias seguidas pelas mesmas letras não di- ferem estatisticamente entre si, sendo assim as mé- dias 1 e 2 são semelhantes estatisticamente, assim como as médias 3 e 4, que apresentaram melhores resultados para a variável altura, sendo considera- dos os melhores tratamentos já que apresentaram maiores médias de altura.
O tratamento 3 apresentou um melhor desenvol- vimento, com altura média de 19,3 centímetros no
quarto mês, em comparação ao 1º e 2º tratamento
que recebeu menor quantidade de água 20 ml e 50 ml respectivamente, as mudas não se desenvolve-
ram bem chegando a 9,5 e 11,3 centímetros de al- tura.
O tratamento 1 se desenvolveu relativamente bem em comparação aos outros tratamentos, porém devido ao excesso de água utilizado na sua irriga- ção (200 ml), ele acaba sendo prejudicado havendo uma diminuição da velocidade de seu crescimento tendo altura máxima no final do projeto de 9,5 cen- tímetros. O tratamento 5 (testemunha) não recebeu água e em consequência a sementes não germina- ram.
Para a variável diâmetro também houve dife- rença significativa entre os tratamentos como pode ser observado na análise de variância na tabela 5.
De acordo com o teste Tukey, o tratamento 3 ob- teve os melhores resultados para a variável diâme- tro à altura do colo, sendo semelhante estatistica- mente com o tratamento 4. Nota-se uma relação do estresse hídrico com o desenvolvimento das mudas. As testemunhas não germinaram visto que necessi-
tam de água, e dentre os tratamentos o melhor foi o 3 pois mostrou maior desenvolvimento das mudas em altura e diâmetro.
CONCLUSÕES
As sementes de ipê amarelo apresentam capaci- dade de adaptação ao estresse hídrico moderado, apresentando potencial para ser utilizada com su- cesso em algumas fases da recuperação de áreas de- gradadas; contudo, o déficit hídrico severo pode afetar o início da germinação e atrasar seu desen- volvimento.
O tratamento 3 apresentou melhor crescimento em altura e diâmetro utilizando 50 ml de água na irrigação, indicando que o ipê amarelo se desen- volve bem com pequenas quantidades de água, sendo indicada para recuperação de áreas degrada- das.
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