Journal of Biotechnology and Biodiversity | v.7 | n.2 | 2019

Journal of Biotechnology and Biodiversity
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Secagem ao ar livre da madeira serrada de eucalipto
Linéia Roberta Zena*, Thiago Campos Monteiroa, Winicius Schaeffera, João Marcelo Kaminskia , Ricardo Jorge Klitzke a
a Universidade Federal do Paraná, Brasil
* Autor correspondente (lizenflorestal@gmail.com )
I N F O A B S T R A C T
Keyworks
quality of wood dry rate
dryind curve defects
final moisture
Air dryng of the lumber to eucalipto .
The difficulty of obtaining dry wood quality is one major obstacle when it comes to drying of Eucalyptus wood, since the species of this genus have slow drying and high propensity to defect. In this sense, the objective of this work was to evaluate the effect of drying in the air, on the quality of Eucalyptus spp, in order to identify the optimal time of permanence of the wood in the drying yard. In the drying process was accompanied by the humidity loss and the drying rate, the defects were measured before and after each drying (warping, cracks and collapse) and tension levels and humidity gradient after drying. The results showed that pre-air drying took 65 days to reach 23% of final humidity, with an average drying rate of 1% / day with low defect rates and drying tensions moisture gradients were medium were 20.22% to 23.18% outer layer and inner layer, and the average gradient 3.17%.
R E S U M O
Palavras- chaves
qualidade da madeira taxa de secagem curva de secagem
defeitos umidade final
A dificuldade de se obter madeira seca com qualidade é um dos maiores obstáculos quando se trata da secagem da madeira do gênero Eucalyptus, visto que as espécies do gênero apresentam secagem lenta e com alta propensão a defeitos. Nesse sentido o trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da secagem ao ar livre, na qualidade da madeira de Eucalyptus spp., visando identificar o tempo ótimo de permanência da madeira no pátio de secagem. No processo de secagem acompanhou-se a perda de umidade e a velocidade de secagem, foram mensurados os defeitos antes e após cada secagem (empenamentos, rachaduras e colapso) bem como os níveis de tensão e de gradiente de umidade após a secagem. Os resultados mostraram que a secagem ao ar livre levou 65 dias para atingir 23% de umidade final, apresentando uma taxa de secagem média de 1%/dia, com baixos índices de defeitos e de tensões de secagem. Os gradientes de umidade foram de 20,22% para camada externa e 23,18% camada interna, sendo o gradiente médio de 3,17%.
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INTRODUÇÃO
A indústria ainda enfrenta dificuldades quanto à secagem da madeira de eucalipto, muitas vezes por falta de conhecimento técnico ou por erros operaci- onais, aliado a isso, à secagem do eucalipto apre- senta características próprias que a tornam uma ma- deira de difícil secagem, o que muitas vezes a mai- oria das indústrias prefere adotar outras espécies como matéria prima principal.
A escolha de um determinado método de seca- gem influencia no tempo de secagem, na qualidade do material seco e também na obtenção do teor de umidade desejado para determinada finalidade. É possível reduzir o tempo de secagem e a incidência de defeitos, quando o processo é conduzido de modo adequado Susin et al. (2014). Nesse sentido, para a madeira apresentar baixo indicie de defeitos, diminuir custos com energia e apresentar maior qualidade final, a secagem ao ar livre torna-se uma alternativa para indústria que requer produtos com ótimo acabamento e estabilidade dimensional.
A secagem ao ar consiste no empilhamento da madeira serrada em pátios, deixando-a exposta a os fatores ambientais, permitindo secar naturalmente até que esta atinja a umidade de equilíbrio do am- biente (Zen, 2016). A taxa de secagem depende principalmente da temperatura, da umidade relativa do ar e da velocidade do vento. Apesar de não ne- cessitar de alto investimento inicial, há o inconve- niente de demandar mais tempo se comparada a ou- tros métodos, além de apresentar um teor de umi- dade final que apresenta limitações para certos usos da madeira Susin et al. (2014).
Os fatores relacionados à madeira, pátio de seca- gem, arranjo das pilhas e as condições climáticas são os principais fatores a serem considerados na secagem ao ar livre. Conforme Ducatti et al. (2001) a pilha de madeira sendo construída de maneira ina-
dequada irá contribuir fortemente para a ocorrência de defeitos na madeira. A velocidade do vento é a variável que apresenta maior relevância na secagem ao ar livre e a organização das pilhas no pátio de secagem irá influenciar na sua eficiência. Segundo Klitzke (2005) vários fatores podem influenciar na velocidade de secagem da madeira, dentre eles se destacam: a espécie, a espessura das tábuas, o teor de umidade inicial, o local, as variáveis ambientais, entre outros.
A secagem ao ar livre da madeira de eucaliptos, torna-se um método interessante que pode ser usado também de formas alternativas, como o mé- todo combinado (pré-secagem mais secagem artifi- cial em estufa), onde a pré-secagem retira lenta- mente a água livre, diminuindo as tensões na ma- deira e posteriormente a remoção da água de im-
pregnação é finalizada em estufa, evitando racha- duras e defeitos como o colapso. Stangerlin et al. (2009) e Braz et al. (2015) recomendam uma seca- gem em dois estágios para madeira, iniciando com uma secagem ao ar livre e em seguida uma secagem em câmara convencional, visando à manutenção da qualidade da madeira com a redução do tempo de secagem na câmara de secagem. Esta combinação de métodos proporcionará redução de custos e maior eficiência do processo, Braz et al. (2015) consideram que o teor de umidade ideal para seca- gem ao ar livre estaria entre 20 e 40%.
Segundo Denig et al. (2000) a secagem ao ar tem como objetivo retirar a água livre reduzindo a umi- dade da madeira em torno de 25 a 30% para conse- quentemente reduzir o tempo de secagem em es- tufa, para que isso aconteça eficientemente é neces- sário obter um teor umidade homogêneo entre as tábuas.
O conhecimento prévio da variabilidade da ma- deira, aliada a uma secagem conduzida correta- mente, pode resultar em benefícios para o controle de possíveis defeitos e melhorar a qualidade da ma- deira, aumentando seu aproveitamento no benefici- amento final, gerando produtos de alta qualidade e inserindo cada vez mais estudos com secagem ao ar livre com diferentes espécies de eucalipto.
Dessa forma, o presente trabalho teve como ob- jetivo avaliar o efeito da secagem ao ar livre, na qualidade da madeira de Eucalyptus spp., identifi- cando o tempo de permanência da madeira no pátio de secagem.
MATERIAL E MÉTODOS
Preparo do m aterial
Amadeira serrada de Eucalyptus spp., com idade média de 15 anos utilizada no estudo foi cedida pela empresa Mademape, localizada em Campina Grande do Sul (PR). As tábuas apresentaram di- mensões nominais de 25 mmx 110 mmx 2.500 mm (espessura, largura e comprimento), na condição “verde”, onde posteriormente foram separadas e transportadas para as dependências do Laboratório de Secagem da Madeira, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), localizada em Curitiba (PR ) para realização da secagem ao ar livre.
Para o monitoramento das variáveis ambientais durante a secagem ao ar livre, foi instalado próximo à pilha um psicrômetro analógico, além disso, fo- ram coletados os dados das variáveis ambientais no Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) lo- calizado no Centro Politécnico da UFPR.
A pilha de secagem, foi montada sobre piquetes
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de concreto a uma altura 30 cm do solo, sendo cons- truída na dimensão nominal de 1.200 x 1.000 x 2.500 mm (altura, largura e comprimento) com 25 camadas de tábuas. Para separação das tábuas fo- ram utilizados sarrafos separadores previamente preparados com seção transversal de 24 mm x 24 mm, com faces paralelas e distribuídos paralela- mente a uma distância de 350 mm entre os sarrafos
(Figura 1). A disposição da pilha seguiu a orienta- ção dos ventos predominantes NE, a vel ocidade média encontrada na pilha com anemômetro foi de 0,5 m.s-1. Para cobertura da pilha foram utilizadas 4 telhas de fibra-cimento com 6 mm de espessura, com objetivo de diminuir a incidência dos raios so- lares e de precipitações nas tábuas.
Figura 1 - Pilha de secagem ao ar livre da madeira de Eucalipto. Monitoramento da umidade, taxa de secagem,

defeitos e qualidade final
=
. ( +100 )
− 100
(1)
Para acompanhar o teor de umidade durante a se- cagem foram utilizadas seis amostras de controle com dimensões de 25 mmx 110 mmx 550 mm (es- pessura, largura e comprimento), tendo seus topos impermeabilizados, conforme Simpson (199 1). Antes do início do processo de secagem, determi- nou-se o teor de umidade inicial de cada amostra de controle, mediante recomendação de Galvão & Jan- kowsky (1985). Posteriormente as amostras foram distribuídas na pilha; sendo três localizadas na en-
trada do ar e três amostras na saída do ar, dispostas
Em que: UA: umidade atual (%); MA: massa do corpo de prova nesse mesmo instante (g); Ui: umi- dade inicial do corpo de prova (%); Mi: massa ini- cial do corpo de prova (g).
Com base nos dados obtidos pela da perda de umidade ao longo do tempo foi determinada a taxa de secagem para madeira de eucalipto, para as três fases da secagem: de verde a 30%, de 30% ao TU final e de verde até TU final (Equação 2).
na base, meio e topo para melhor controle da umi- dade, conforme Figura 1.
=
−
(2)
O monitoramento do teor de umidade durante o processo de secagem através das amostras de con- trole foi realizado a cada dois dias até a obtenção do teor de umidade final desejado. A perda de umi- dade neste ensaio foi acompanhada com base na Equação 1, conforme Brandão (1989).
Em que: TS: taxa de secagem (U%.h-1); TUi: teor de umidade inicial (%); TUf: teor de umidade final (%); T: (tempo em dias).
Também para um melhor acompanhamento da umidade em toda pilha e para avaliar qualidade das
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tábuas quanto aos defeitos de secagem, foram sele- cionadas 50 tábuas, onde estimou-se a massa seca das tábuas em função da determinação umidade ini- cial pelo método gravimétrico e do peso inicial de cada tábua (Equação 3).
defeito está acima do admitido para a quarta classe da norma, adotando-se a classificação pela pior face da tábua. A qualidade final da secagem quanto teor de umidade final, gradiente de umidade e as tensões de secagem foram analisadas após a secagem se- guindo recomendação de Simpson (1991) com as
=
100 . 100 +
(3)
mesmas 50 tábuas selecionadas.
Em que: MSE = massa seca estimada (g); Mi = massa inicial das tábuas (g); Ui = umidade inicial das amostras (%).
Posteriormente as 50 tábuas foram distribuídas na pilha de forma aleatória, os defeitos avaliados foram arqueamento, encurvamento, encanoamento e rachaduras de superfície e de topo seguindo as re- comendações da NBR 14806 (ABNT, 2002). O Ín- dice de Rachaduras de Topo (IRT) foi calculado através do somatório de todas as rachaduras de topo em cada face, pelo comprimento da tábua. Foram consideradas como tábuas defeituosas aquelas cujo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Oteor de umidade inicial médio foi de 94%, com desvio padrão de 23,1% e coeficiente de variação de 24,5%. Os valores variaram de 64 a 149% de umidade inicial (Figura 2). O processo de secage m foi finalizado quando a madeira atingiu 23% de teor de umidade final médio, com desvio padrão de 2,0% e coeficiente de variação de 8,7% num tempo de 65 dias. Os valores de umidade final variaram de 19 a 26% entre as tábuas.
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Umidade Inical (%) Umidade Final (%)
Figura 2 - Teor de umidade inicial e seus outliers e o teor de umidade final das tábuas após a secagem, com a dispersão dos dados.
Pode-se observar na figura 1 que o teor de umi- dade inicial e final para secagem apresentou baixa variação dos dados comprovando a eficiência do processo, assim como uma baixa variação entre as tábuas. Os resultados encontrados de teor de umi- dade inicial e final (Figura 2) para a madeira de eu- calipto ao ar livre estão de acordo com os resultados obtidos por Duarte et al. (2015). Santos et al. (2003) recomendam que a secagem natural seja interrom- pida quando o teor de umidade da madeira estiver entre 20 e 40%, a partir do qual seria mais eficiente a secagem convencional.
Amadeira avaliada conforme a figura 2 apresen- tou variação de umidade nas tábuas entre 22 a 44%, com desvio padrão de 10,1 e 33% de coeficiente de
variação, por esse motivo deu-se sequência a seca- gem, sendo finalizada com 65 dias. Quando a ma- deira atingiu em média 22% de umidade, sendo en- contrada baixa dispersão dos dados de umidade en- tre as tábuas (desvio padrão de 2,6% e coeficiente de variação de 16,8%) e homogeneidade entre as peças. Segundo Denig et al. (2000) para que a ma- deira decorrente de um processo de secagem ao ar livre seja eficiente para uma posterior secagem con- vencional é necessário que o teor de umidade seja homogêneo entre as tábuas.
Na figura 3 pode se observar o comportamento da curva de perda de umidade no tempo, associando a umidade de equilíbrio.
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100
90
80
70
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20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 Perído de secagem (dias)
Umidade de equilíbrio ambiente Teor de Umidade da madeira
Figura 3 - Curva de secagem ao ar livre e umidade de equilíbrio do ambiente para secagem da madeira de eucalipto.
Conforme a figura 3 a pré-secagem ao ar livre da madeira de eucalipto foi finalizada com 65 dias. Os valores observados apresentaram a mesma tendên- cia encontrada por Duarte et al. (2015), que durante a primavera obtiveram 63 dias de secagem ao ar li- vre para madeira de eucalipto, na cidade de Frede- rico Westphalen (RS), para que seu teor de umidade inicial de 54% atingisse 15,5%.
Nota-se na figura 3 que a madeira apresentou a perda de umidade de forma constante, apesar de se- rem constatados períodos de chuva intermitentes durante a secagem. Apartir do 35° dia ocorreu uma redução drástica da velocidade de secagem com certa estabilização do teor de umidade, levando 30 dias para o TU cair de 32% de para 23%. Esta difi- culdade foi causada pela retirada em grande parte da água de impregnação da madeira (Kliztke, 2005). Porém esse período, entre 32 e 23% foi fun- damental para que ocorresse uma maior homoge- neidade da umidade entre as tábuas em toda pilha, ficando comprovado este resultado quando obser- vado o baixo coeficiente de variação obtido no teor
de umidade final das tábuas.
Pode-se destacar ainda (Figura 2) o curto período que as tábuas levaram para atingir o PSF (ponto de saturação das fibras, próximo aos 30% de teor de umidade), sendo esse de 39 dias, durante este perí- odo de secagem, ocorreram altas temperaturas, atí-
picas dessa época (outono-inverno), que favorece- ram a secagem reduzindo o teor de umidade da ma- deira de forma mais acelerada. Em nenhum mo- mento houve um ganho de massa das amostras de controle, nem durante a remoção da água livre e nem na remoção da água de impregnação, demons- trando que a perda de umidade ocorreu normal- mente, períodos chuvosos e mais úmidos não pro- porcionaram aumento no teor de umidade da ma- deira.
Nota-se na figura 3 que as tábuas ao final da se- cagem apresentaram um teor de umidade acima da umidade de equilíbrio do ambiente (UEa), a ma- deira ficou com 23,0% numa UEa de 15,8%. Esses resultados foram satisfatórios principalmente pelo fato do objetivo da secagem ao ar livre ser para re- alizar uma pré-secagem, ou seja, uma secagem in- termediária, sendo necessário finalizar a secagem em estufa convencional até um teor de umidade fi- nal desejado.
Taxa de secagem
As taxas de secagem médias obtidas nas condi- ções de teor de umidade de verde até 30% (retirada da água capilar), 30 até 22% (retirada da água de difusão) e de verde até 22% (retirada da água capi- lar e de difusão) são apresentadas na tabela 1.
Tabela 1 - Taxa de secagem ao ar livre para madeira de eucalipto função do tipo de remoção de água .
Faixas de umidade
T.S (U%.dia- 1)
Média
CV%
Verde a 30 % 1,50 21,5
30% a 22%. 0,25 32,3
Verde a 22% 1,00 21,3
T.S = Taxa de secagem (U%.dia-1); CV% = Coeficiente de variação (%)
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Pode se observar uma velocidade de secagem baixa em todas as faixas das taxas de secagem ana- lisadas com forte variação dos resultados encontra- dos (Tabela 1). A velocidade de secagem na reti- rada da água capilar foi 6,0 vezes maior do que a retirada da água de impregnação. Duarte et al. (2015) encontraram valores de taxa de secagem su- periores em média de 7,5 vezes maior na retirada da água capilar para Eucalyptus spp., enquanto que Santos et al. (2003), encontraram taxa de secagem inferior de 4,6 vezes maior na retirada da água ca- pilar durante a secagem da madeira de Eucalyptus grandis. A retirada da água livre por capilaridade apresenta maior taxa de secagem quando compa- rada com a água de impregnação ligada na parede celular (Klitzke e Batista, 2010; Monteiro et al., 2018; Nascimento et al., 2019), a qual é retirada por difusão, e que as características da madeira e o aproveitamento das condições climáticas irão influ- enciar na taxa de secagem (Santos et al., 2003; Klitzke e Batista, 2010). Para espécies do gênero Eucalyptus esse movimento de difusão sofre restri- ções pelas características anatômicas da espécie
(Monteiro et al., 2017), com predomínio de pontu- ações de pequenos diâmetros e com vasos usual-
mente bloqueados por tilose, tornando a madeira impermeável (Vermaas, 2000) .
Quando comparamos a velocidade de secagem com outras espécies de folhosas, Susin et al. (2014) analisando amostras de Hovenia dulcis submetidas
a secagem ao ar livre obtiveram uma velocidade de
8,9 vezes maior na retirada da água capilar. Mon- teiro et al. (2018) relataram velocidade de 8,2 vezes maior na retirada da água livre quando comparada a água adsorvida durante a secagem de toras de di- ferentes materiais genéticos de Eucalyptus. Ambos estudos com resultados bem superiores aos encon- trados no presente estudo.
Neste estudo na faixa de 30 a 22%, na remoção da água de impregnação (Tabela 1), a taxa de seca- gem reduziu 83,33%, evidenciando que nessa faixa a remoção da água de impregnação é muito difícil e lenta, principalmente pelo fato da água da ma- deira estar aderida na parede celular. Jankowsky e Santos (2003) resumem a secagem da madeira em três etapas, sendo a terceira fase (fase da difusão) iniciada quando a linha de evaporação de água se restringe ao centro da tábua, não havendo mais água livre no material e a taxa de secagem será re- gulada pelas condições ambientais aplicadas e pe- las características do material, até que o teor de umidade de equilíbrio seja alcançado.
Defeitos de secagem - rachaduras de superfície e topo
Seguindo os critérios da NBR 14806 (ABNT, 2002), a porcentagem de tábuas com rachaduras de superfície foi de 26% após secagem ao ar livre (Ta- bela 2) e o índice de rachaduras de topo de 4,7%.
Tabela 2 - Rachaduras de superfície e de topo submetidas a secagem ao ar livre .
Avaliação
Rachadura de superfície mé- dio (%)
IRT médio (%)
Após desdobro 6 2,5
Após secagem 26 4,7
IRT médio= índice de rachaduras de topo.
Apesar do alto valor encontrado para a percenta- gem de rachaduras de superfície (Tabela 2) as tá- buas apresentaram alta qualidade, sendo classifica- das como de primeira e segunda qualidade. As ra- chaduras de superfície eram de pequena extensão e superficiais e não afetaram a qualidade da madeira. Stangerlin et al. (2009) encontrou valores um pouco inferiores a este estudo para E. saligna com 16,36% das tábuas com rachaduras de superfície seca ao ar livre.
Com relação ao índice de rachaduras de topo (IRT) apresentados na tabela 2, verificou-se que após a secagem ocorreram baixos índices desse de- feito. De acordo com a norma utilizada nenhuma
tábua foi classificada com defeituosa (Tabela 2). Estes resultados estão de acordo com Stangerlin et al. (2009) que encontraram valores de IRT para a secagem ao ar de 4,1%, 5,8% antes e após a seca- gem para madeira de E. saligna. A possível expli- cação para o baixo índice de rachaduras de topo pode ser o baixo gradiente de umidade encontrado, aliado as condições de secagem suave e também pelo fato de a madeira ser coberta após o empilha- mento, fazendo com que os raios solares não inci- dissem diretamente nas tábuas, diminuindo dessa forma as rachaduras. Mendes et al. (1998) ao testa- rem o comportamento de 25 espécies do gênero Eu- calyptus na secagem ao ar livre, concluíram que em
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relação aos parâmetros de qualidade relacionados as rachaduras, é possível se obter madeira serrada
deste gênero com qualidade satisfatória exigida pelo setor moveleiro, desde que se tenha um desen- volvimento e acompanhamento rígido das condi- ções de secagem, bem como técnicas corretas de empilhamento.
Defeitos de secagem - empenamentos
Os resultados médios obtidos dos empenamen- tos, quanto ao arqueamento, encurvamento e enca- noamento para madeira de Eucalyptus spp. encon- tram-se na Tabela 3. Verificou-se que após seca- gem da madeira ao ar livre as tábuas apresentaram
menor índice de arqueamento, e que 36 % das tá- buas apresentaram esse defeito.
Tabela 3 - Empenamentos na secagem ao ar livre na madeira de Eucalyptus .
Tipo de Empenamento Após desdobro %Defeito Após secagem % Defeito
Arqueamento (mm/m) 1,36 80 0,58 36
Encurvamento (mm/m) 1,91 64 1,34 62
Encanoamento (mm) 0 0 0,46 28
A redução na flecha média do arqueamento con- forme a Tabela 3, pode ser justificada pelo fato de que a madeira de eucalipto após o desdobro libera suas tensões, e que ao longo do processo de seca- gem ao ar, em condições não controláveis das vari- áveis ambientais, essas tensões vão sendo “alivia- das” e os índices de arqueamento vão diminuindo ao longo da secagem. O arqueamento é um defeito que pode estar associado às tensões de crescimento e que no momento do desdobro acaba ficando apa- rente, conforme Rocha e Tomaselli (2002) a mani- festação deste defeito está mais associada às ten- sões de crescimento ainda presentes nas tábuas do que ao processo de secagem. O arqueamento é um defeito que se manifesta durante o desdobro e que pode ser intensificado durante a secagem .
Ainda na tabela 3 pode-se analisar que logo após o desdobro, as tábuas já apresentaram encurva- mento e que após a secagem ocorreu uma redução na flecha média, onde após a secagem 62% das tá- buas apresentaram esse defeito. A redução deste
empenamento se deve provavelmente à ação do
peso das próprias tábuas (restrição) e ao correto em- pilhamento e alinhamento dos sarrafos separadores, foram os fatores preponderantes na redução do ín- dice. Batista et al. (2015) encontraram redução no encurvamento médio após a secagem de espécies de eucaliptos, Rocha e Tomaselli (2002) afirmam que o principal fator de redução do encurvamento é a restrição mecânica do empilhamento. Segundo Simpson (1991) e Denig et al. (2000) o encurva- mento não é um defeito problemático da madeira, uma vez que pode ser eliminado facilmente durante o processo de empilhamento da carga de madeira. Tanto para o arqueamento quanto para o encur- vamento, nenhuma tábua apresentou flecha supe- rior de 5 mm conforme o estabelecido pela norma,
podendo afirmar que a madeira apresentou alta qua- lidade após a secagem e que as tábuas foram clas- sificadas como adequadas para serem usadas na produção de produtos de maior valor agregado.
O encanoamento não foi observado na condição verde (após desdobro) (Tabela 3), pois este defeito está associado às diferenças de contração entre os planos tangencial e radial, quando seca. Porém após a secagem, o encanoamento esteve presente em 28% das tábuas, com um índice de 0,46 mm.m-1. A presença de tábuas encanoadas ocorre principal- mente em tábuas com orientação tangencial/radial, ou seja, em tábuas que estão próximas da medula e apresentam uma face tangencial e outra radial, ocorrendo devido os diferentes índices de contração entre as faces tangencial e radial. Susin et al . (2014) verificaram um aumento na flecha média de 1,17 mm.m-1 após o desdobro e 1,63 mm.m-1 após secagem de Hovenia dulcis seca ao ar livre.
Gradiente de umidade e tensões de secagem
As tábuas apresentaram gradiente de umidade médio após a secagem ao ar livre de 3,17%. Em média as tábuas apresentaram um teor de umidade interno de 23,32% (cv% de 7,04%) e um teor de umidade externo de 20,15% (cv% 4,74%). Tal gra- diente apesar de ser considerado elevado não oca- sionou elevados índices de defeitos. O fato se deve provavelmente ao teor de umidade final (23%) nas tábuas estar próximo ao ponto de saturação das fi- bras (PSF), o que justifica os baixos índices de de- feitos encontrados. Batista et al. (2015) encontra- ram em média gradiente de umidade na sec agem em estufa convencional valores inferiores ao deste estudo.
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CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos com a secagem da madeira serrada de Eucalyptus é possível concluir
que:
• O Teor de umidade final médio encontrado foi próximo à umidade de equilíbrio da re- gião e com baixa variação dentro da pilha;
• O teor de umidade final homogêneo na pilha para uma pré-secagem ao ar foi alcançado
com 65 dias de secagem;
• A taxa de secagem foi maior na remoção de água livre, apresentando-se de forma cons- tante.
• A secagem ao ar livre apresentou baixos ín-
dices de defeitos, tornando alta a qualidade da madeira após a secagem ao ar livre.
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© 2019 Journal of Biotechnology and Biodiversity ISSN: 2179- 4804
DOI: https://doi.org/10.20873/jbb.uft.cemaf.v7n2.zen
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