Amaral, W. A. N. et al. 207

Vol. 4, N.3: pp. 207-215, August, 2013 ISSN: 2179-4804

Journal of Biotechnology and Biodiversity

Frutification and germination ecology of Citharexylum myrianthum Cham (Verbenaceae)

Weber A. Neves do Amaral¹,*, Lia Maris O. Ritter Antiqueira², Micheli A. Horbach 3

ABSTRACT

(Fructification and germination ecology of Citharexylum myrianthum Cham [Verbenaceae]). Citharexylum myrianthum Cham is a tree species that is abundant in riparian forests, widely used in the restoration of degraded areas, especially for areas with flood tendency. This study aimed to provide information on the mode of dispersal and germination of C. myrianthum. The process of fruition and seedling has been analyzed in a field trial in Botucatu/SP. The evaluations included aspects of the fruit maturation, fruit and pyrenes dispersal and predation and ecophysiology of germination. The fruits are dispersed mainly by birds and predation not affecting germination. This study allowed concluding that the species has good germination potential, especially under the light - characterizing himself as pioneered - and that its fruits have good viability in the soil and form seed bank for more than 12 months. These are important traits that make C. myrianthum useful in restoration of riparian forests. Keywords: Zoocoric dispersion, Germination, Fruits predation.

Frutificação e ecologia da germinação de Citharexylum myrianthum Cham (Verbenaceae)

RESUMO

(Frutificação e ecologia da germinação de Citharexylum myrianthum Cham [Verbenaceae]). Citharexylum myrianthum Cham (tarumã) é uma espécie arbórea que ocorre abundantemente na mata ciliar e é utilizada em programas de recuperação de áreas degradadas, especialmente em áreas com solos encharcados. Este trabalho teve por objetivos fornecer informações sobre o modo de dispersão e germinação do tarumã. Foram realizadas análises da maturação dos frutos produzidos, de viabilidade dos pirênios, de dispersão e predação e de ecofisiologia da germinação. Os frutos são dispersos, principalmente, por aves generalistas e a germinação é pouco afetada pela predação pré-dispersão. A espécie apresentou um bom potencial germinativo em regime de luz, caracterizando-se como pioneira e, seus frutos mostraram boa viabilidade no solo, formando banco de sementes por mais de 12 meses. As características avaliadas demonstraram o grande potencial da espécie para ser utilizada na restauração de matas

ciliares, a partir de sementes e mudas.

Palavras chave: Dispersão zoocórica, Germinação, Predação de frutos.

*Autor para correspondência

1,*Doutor, Professor do Departamento de Ciências Florestais, ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, n. 11, CEP: 13418- 260 - Piracicaba/SP. E-mail: wamaral@usp.br.

2Doutora, Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, n. 11, CEP: 13418- 260 - Piracicaba/SP. Email: lmritter@usp.br.

3Doutora, Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, n. 11, CEP: 13418- 260 - Piracicaba/SP. Email: michelihorbach@yahoo.com.br

J. Biotec. Biodivers. v. 4, N.3: pp. 207-215, Aug. 2013

https://doi.org/10.20873/jbb.uft.cemaf.v4n3.amaral

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INTRODUÇÃO

A substituição da vegetação nativa devido à

expansão da fronteira agropecuária e das malhas urbanas, assim como do desmatamento indiscriminado, acarreta na fragmentação dos

ecossistemas florestais, aumentando o grau de isolamento entre os fragmentos (Primack e

Rodrigues, 2001). A fragmentação de habitats é uma forte ameaça `a diversidade biológica e a causa primária de extinção de espécies (Wilcox e

Murphy, 1985). Dessa forma, os fragmentos florestais restantes sofrem grande pressão antrópica, agravando este problema e levando ao

aparecimento de extensas áreas degradadas vizinhas às florestas secundárias.

Citharexylum myrianthum Cham (família Verbenaceae), é uma espécie nativa conhecida popularmente como tarumã ou pau de viola, de ocorrência ampla no nordeste, sudeste e sul do Brasil, em formações de Cerrado, Caatinga e Mata

Atlântica (Salimena et al., 2013). Atinge 15- 25

metros de altura e floresce durante os meses de novembro e dezembro, apresentando frutos maduros a partir de janeiro (Lorenzi, 2002). É

descrita na literatura como uma espécie pioneira,

apresentando ótima regeneração natural em vários estágios da sucessão secundária e produzindo

anualmente uma grande quantidade de flores e frutos (Reitz et al., 1979; Lorenzi, 1992; Carvalho,

2004). Por este motivo, é muito utilizada em programas de recomposição de matas ciliares ou

para arborização urbana (Torres et al., 1993), além

de finalidades paisagísticas em praças e parques. Os frutos do tarumã apresentam síndrome

zoocórica, sendo dispersos principalmente por aves (frutos com coloração atrativa, localização

exposta e conspícua) que são adaptações para a dispersão ornitocórica (Snow, 1971; Van Der Pijl,

1982), e mamíferos, notadamente dispersa pelo

macaco-bugio (Alouatta fusca) (Carvalho, 2004). Segundo Andrade (2005) a polinização é feita por diversas espécies de esfingídeos, beija flores e até

mesmo borboletas, sendo os esfingídeos de hábito crepuscular e noturno e os beija flores e borboletas

de hábito diurno. A dispersão dos frutos e sementes

Para produção de sementes e mudas, os frutos são colhidos diretamente da árvore, quando começam a ser procurados por aves. A extração é feita por maceração para retirada da polpa dos caroços,

sendo as sementes dispostas em ambiente ventilado para secagem. Após o beneficiamento do fruto, a unidade prática de manipulação é a metade

do pirênio (semipirênio), e não a semente propriamente dita, que se encontra firmemente aderida ao semipirênio em contato com o ar. As

sementes são distribuídas para germinação logo

que colhidas em canteiros semi-sombreados. A taxa de germinação geralmente é superior a 80% e

não há necessidade de quebra de dormência (Zanon et al., 1997; IBF, 2013). Após o

transplante das mudas (quando atingem 4-6 cm),

estas precisam receber sol direto, devendo ser plantadas em áreas abertas (Bueno e Leonhardt,

2011). O desenvolvimento das plantas no campo é rápido, podendo atingir quatro metros em dois

anos de idade (Zanon et al., 1997; IBF, 2013). Estudos considerando aspectos silviculturais de

espécies nativas com grande importância

econômica e ambiental são fundamentais para subsidiar planos de manejo, recuperação ambiental e conservação. Considerando este aspecto, este

estudo teve por objetivo fornecer informações sobre a maturação fisiológica de frutos, dispersão

de sementes e germinação de tarumã, as quais podem ser utilizadas para identificação do potencial desta espécie a partir da semeadura direta ou plantio a partir de mudas em projetos de restauração de matas ciliares.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo está localizada na Faze nda

Experimental Edgárdia (22° 47’ 30” S e 48° 26’ 15” W), localizada na bacia do rio Capivara, no

município de Botucatu, Estado de São Paulo. A

Fazenda possui uma área de aproximadamente 500 hectares e pertence à Universidade Estadual

Paulista. A altitude média da região é de 577 m e o clima é classificado, segundo Koeppen como tipo

Cfa ou temperado úmido, com verão quente (Martins, 1993). Os solos encontrados no local de

estudo são predominantemente associações de

solos aluviais, glei húmico eutrófico e l atossolo vermelho-amarelo (Carvalho et al., 1991).

Foram observados neste estudo cinco indivíduos

adultos de tarumã com DAP médio de 30 cm, altura média de 21,3 m e área média da copa de

34,6 metros quadrados. Para análise da maturação dos frutos, foram realizadas oito coletas em intervalos de uma semana, iniciadas 35 dias após o pico de floração. As características analisadas foram: teor de umidade do fruto e pirênio, peso da matéria seca, cor, comprimento, diâmetro,

germinação e composição química. Os fru tos coletados foram agrupados visualmente quanto à cor em quatro grupos: verdes, amarelos,

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amarelo/avermelhados e vermelhos. As dimensões dos frutos (comprimento e diâmetro) foram avaliadas por classe de cor, empregando-se um

paquímetro com exatidão de 0,1mm. A

porcentagem de umidade dos frutos e pirênios foi determinada em base úmida em estufa, a 105° C,

com quatro repetições de 20 frutos ou pirênios cada, no delineamento inteiramente casualizado

(Brasil, 1992). Para a determinação do peso seco

das estruturas, utilizaram-se os mesmos frutos e pirênios submetidos aos testes de umidade. Os

testes de germinação foram conduzidos em câmaras germinadoras do tipo germ-box, sobre

papel toalha, com oito repetições de 25 pirênios despolpados, no delineamento inteiram ente

casualizado, com avaliação aos 30 dias.

Na composição química dos frutos avaliou-se a composição centesimal de proteínas, amido, ácidos graxos, fibras e cinzas, conforme a metodologia de

Teles (1981) para o amido e a metodologia da Association of Official Analytical Chemists

(AOAC, 1975) para os outros componentes.

Na análise de viabilidade dos pirênios ao longo do

tempo, foi empregado um ensaio de campo com 20 sacos de tela de sombrite 50% em que se

colocaram 50 pirênios. Os 20 sacos ou repetições

foram aleatoriamente distribuídos em clareiras próximas às plantas mães e, após um ano, cinco

foram abertos para análise da germinação,

predação e degradação dos pirênios e, três sacos para a determinação do teor de umidade (Pagano,

1985; Sork, 1987). O teste de germinação foi conduzido em laboratório à temperatura constante de 25°C em presença de luz. Para o estudo do grau

de injúria dos frutos e pirênios coletados próximos

à planta-mãe foram instaladas quatro bandejas de 1m2, localizadas a 2m da base do tronco das

árvores. As variáveis analisadas foram: pirênios inteiros e quebrados, frutos inteiros e danificados. Na dispersão da espécie por ornitocoria foram realizadas observações a olho nu e com auxílio de

binóculos. A metodologia foi adaptada de Silva (1988), considerando como unidade padrão de

observação a hora-planta. As observações ocorreram no período de 05h30min as 09h30min e

de 17h:00min as 19h:00min, totalizando 40 horas

de observações. Foram registradas as espécies que se alimentavam dos frutos, e a frequência de

visitação. Para a identificação das aves, foram utilizadas redes de nylon de 3m de altura alocadas

ao redor de uma das árvores para a captura. Fezes de aves foram coletadas na projeção da copa e em

poleiros identificados a fim de verificar a presença

de frutos e pirênios, o grau de degradação, germinação e umidade destes.

O efeito da luz na germinação foi estudado em um ensaio no laboratório, em câmara germinadora,

com 25 pirênios em papel e oito repetições de quatro tratamentos, combinando presença e

ausência de luz com temperatura constante a 25° C e variável a 20-30° C (Brasil, 1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Maturação dos frutos

Na maturação dos frutos foi observado um

aumento em diâmetro em relação ao comprimento (Tabela 1). Os frutos aumentaram em média 60%

de diâmetro, enquanto que o comprimento sofreu um acréscimo de 22%. Foi observado a partir do

estádio intermediário que houve um aumento no

comprimento dos frutos, apesar de a germinação ser baixa. O aumento no volume dos frutos ocorreu devido ao crescimento do mesocarpo, que

passa a acumular água no fruto maduro. Nos frutos verdes, o peso da matéria seca dos pirênios

representa 44% do peso da matéria seca do fruto, já no fruto maduro, esse valor corresponde a 37%, indicando que, apesar de possuir maior

porcentagem de água, os frutos maduros ganham proporcionalmente mais matéria seca que os

pirênios, considerando os estádios de maturação. Além disso, os frutos tendem a ganhar água, e o

pirênio a perdê-la durante a maturação. Com a

formação da semente, a umidade vai diminuindo em função do aumento de matéria seca até o ponto em que o teor de água da semente oscila de acordo

com a umidade do ambiente (Carvalho e Nakagawa, 2000).

Quanto à porcentagem de germinação houve diferenças entre os estádios de maturação. Os frutos verdes e intermediários apresentaram uma

menor porcentagem de germinação, enquanto que os frutos maduros e os frutos nos estádios intermediário-maduro apresentaram maior germinação, podendo ser utilizados eficientemente

na produção de mudas desta espécie.

No tarumã, observa-se que o comprimento, diâmetro, umidade e matéria seca dos frutos e pirênios são bons indicativos da maturação

fisiológica da espécie. Além disso, a classificação

dos frutos de acordo com a coloração também foi considerada eficiente para aferir o grau de

maturidade e percentual de germinação dos frutos e pirênios. Assim como observado para cedro

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(Cedrela fissilis) (Corvello et al., 1999), que alcança a maturidade fisiológica com teor de água entre 50 e 60% e os frutos apresentam coloração

marrom-esverdeada a marrom-clara. O tamanho

dos frutos e a coloração das sementes também foram bons indicadores do ponto de maturação

jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), o grau de umidade e o peso da matéria seca foram os índices que melhor caracterizaram a maturação fisiológica

e época de colheita das sementes (Martins e Silva, 1997), assim como para Podocarpus lambertii (Ragagnin et al., 1994).

fisiológica para a quaresmeira

(Tibouchinagranulosa) (Lopes et al., 2005). Para o

Tabela 1 – Percentual germinação, comprimento e diâmetro em milímetros, percentual de umidade e peso em matéria seca dos frutos e pirênios de tarumã, nos diferentes estádios fisiológicos (Verde,

intermediário, Intermediário/maduro e Maduro), São Paulo.

Estádio

Germinação (%)

Comprimento (mm)**

Diâmetro (mm)

Umidade (%) Fruto Pirênio

Matéria seca (g/10unid) Fruto Pirênio

Verde 30 b* 9,7 c 6,1 d 62,4 c 17,4 a 0,90 b 0,41 b

Intermediário 33 b 12,1 a 7,6 c 60,4 d 15,6 ab 1,10 b 0,43 b

Intermed/maduro 46 ab 11,0 b 8,2 b 64,0 b 14,7 b 1,39 ab 0,55 ab

Maduro 68 a 11,9 a 9,7 a 71,6 a 14,2 c 1,76 a 0,66 a

Média 44,2 11,2 7,9 63,9 15,3 1,29 0,51

*As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.** Valores de comprimento e diâmetro em milímetros, porcentagem de umidade e matéria seca em gramas por 10 unidades.

verdes, sendo que o teor de amido praticamente

A análise química de frutos em diferentes estádios de maturação revela que estes são amiláceos e

possuem elevada porcentagem de fibras, que se acumulam provavelmente no pericarpo, ou seja, na camada externa do pirênio (Figura 1).


Figura1: Composição de cinzas, matéria graxa, proteína, amido e fibras dos frutos de tarumã em

diferentes estádios de maturação na amostra desidratada. São Paulo.

Os frutos maduros apresentam uma menor porcentagem de matéria graxa e proteína que os

não varia durante a maturação. Nos frutos intermediário-maduros há um aumento acentuado

no teor de proteína e cinzas, com manutenção dos teores de matéria graxa. A razão do aumento do teor de proteína na metade do processo de

maturação pode estar relacionada com o aumento

da síntese protéica, sendo que, após atingir um determinado valor, as proteínas começam a se

deg radar.

Como os frutos de tarumã apresentam pequena

mudança na sua composição química durante a maturação, pode-se esperar que os compostos

analisados não foram os fatores mais importantes

que condicionam a presença ou não de predadores dos frutos. Os resultados da análise química indicam, por outro lado que, os frutos maduros,

pobres em proteínas e matéria graxa, são

consumidos por um grande número de animais, o que aumenta a probabilidade de sucesso da

dispersão, já que há uma maior chance dos frutos caírem em local adequado ao estabelecimento.

Perda da viabilidade dos pirênios no tempo

A média de frutos inteiros encontrados foi de quatro frutos por amostra e 64 pirênios. Destes,

28,7% e 50,4% dos pirênios não apresentavam sinais de degradação. Este fato pode ter ocorrido

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pela deterioração dos frutos e pirênios, da perda por animais e pela malha da tela.

A germinação média dos pirênios armazenados no solo foi de 19,5%, e a umidade média presente nos

frutos armazenados foi de 16,9%. A porcentagem de germinação encontrada após um ano é alta,

sendo que as sementes permanecem viáveis por um período superior a doze meses, levando à

formação de um banco de sementes (Hall e

Swaine, 1980; De Foresta e Prevost, 1986; Garwood, 1989; Levin, 1990, Zanon et al., 1997).

Sabe-se que as espécies da vegetação em crescimento representam pequena amostra do

conteúdo genético da comunidade e que o banco de sementes não germinadas que permanecem no

solo pode conter grande número de genótipos

diferentes da população adulta. O con hecimento básico do banco de sementes permite que se realizem previsões sobre o potencial florístico

existente no processo de sucessão que se segue. Este tipo de estudo é fundamental para o

entendimento do estabelecimento e evolução de um ecossistema florestal e consequentemente para o gerenciamento e implantação de planos de manejo e de recuperação florestal (Nobrega et al., 2009).

O banco de sementes de tarumã pode ter um papel importante na manutenção da base genética das

populações em situações em que houve a eliminação das árvores existentes anteriormente. A formação de um banco de sementes do solo auxilia, ainda, a atenuar os efeitos causados pelos anos de menor produção de frutos, funcionando como um estabilizador do número de indivíduos

que podem colonizar uma determinada área,

aumentado a probabilidade de estabelecimento e colonização por novos indivíduos.

A permanência das sementes viáveis no solo, levando a formação de um banco de sementes é uma característica típica de espécies pioneiras, como descritas por Carvalho (2004). Por ser uma

espécie que ocorre preferencialmente em áreas úmidas e brejos (Lorenzi, 1992), após as sementes

de tarumã terem sido dispersas da planta mãe, pode ocorrer dispersão secundária pela água,

inclusive depois de um ano da sua produção (Amaral, 1993). Além disso, as sementes de

tarumã podem ser armazenadas por um período de 360 dias em câmara seca (Zanon et al., 1997).

Dispersão de frutos e pirênios

A porcentagem de frutos inteiros nas bandejas foi de 24%, um valor relativamente baixo pela

quantidade de frutos que caem da árvore mãe pela gravidade, entretanto a polpa encontra-se muito

susceptível aos danos provocados pela

precipitação entre uma coleta e outra. Já a porcentagem de pirênios quebrados foi de 29,1%,

o que pode estar relacionado com a predação por aves.

A metodologia usada para a análise da predação, baseada no grau de injúria, mostrou-se pouco

precisa, pois, como o intervalo entre as coletas foi

de uma semana e a polpa dos frutos maduros pode ter sido danificada pela chuva. Já na predação pré - dispersão, se observou a presença da larva de

Anastrepha sp. (mosca das frutas). A porcentagem de frutos maduros mantidos em observação, que

possuíam a larva de Anastrepha sp., foi de 75%, enquanto que para os frutos intermediários - maduros foi de 31%. Este resultado indica que a infestação ocorre com maior intensidade na fase final da maturação.

Observações sobre a avifauna

Em observações sobre a avifauna foram identificadas 17 espécies de aves, de onze famílias, visitando as árvores ao longo do dia, sendo que, de todas as espécies visitantes, apenas seis foram observadas alimentando-se dos frutos, com a frequência de visitação destas alcançando 52% do

total observado (Tabela 2). As famílias com maior

número de espécies visitantes foram Tyrannidae (4) e Columbidade (3). Machado e Rosa (2005) também identificaram Tyrannidae como a família

com maior número de espécies visitantes, tendo observado cinco espécies, sendo três diferentes das aqui listadas.

Além disso, embora neste estudo não se tenha observado a ingestão dos frutos por Tyrannus

melancholicus, Tangara sayaca e Pitangus sulphuratus, no estudo de Machado e Rosa (2005)

são identificadas estas espécies como consumidoras que engolem o fruto inteiro.

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Tabela 2 – Espécies de aves, famílias, hábito e frequência de visitação observada nas árvores de tarumã, São Paulo

Espécie Família Hábito Frequência (%)

Patagioenas picazuro Temminck* Columbidade g,f 26

Patagioenas cayennensis Bonnaterre* Columbidade g,f 15

Geotrygon violacea Temminck* Columbidade g.f 11

Crotophaga ani Linnaeus Cuculidae i,c 0,2

Guira guira Gmelin Cuculidae i,c 0,2

Tangara sayaca Linnaeus Fringilidae f,b 7,5

Synallaxis spixi Sclater Furnariidae i,c 2,7

Gnorimopsar chopi Vieillot Icteridae O 4,2

Turdus amaurochalinus Cabanis* Muscicapidae o.f 7,7

Forpus xanthopterygius Spix* Psittacidae g,f 2,9

Sporophila lineola Linnaeus Thraupidae G 0,2

Turdus rufiventris Vieillot* Turdidae o,f 1,5

Colonia colonus Vieillot Tyrannidae I 0,2

Myiodynastes maculatus Statius Muller Tyrannidae I 9

Tyrannus melancholicus Vieillot Tyrannidae I 8,5

Pitangus sulphuratus Linnaeus Tyrannidae O 1,8

Cyclarhis gujanensis Gmelin Vireonidae i,f 1,4

* Espécies de aves que se alimentam dos frutos; i: insetívoros; f: frugíveros; g: granívoros; o: onívoros; c: carnívoros; b: brotos.

A presença de pássaros insetívoros na fase final da

maturação dos frutos pode estar relacionada ao grande número de insetos encontrados na planta. As larvas de Anastrepha sp. infestam os frutos

maduros e, servem de alimento para muitas aves

insetívoras. A larva se alimenta da polpa do fruto maduro, porém não causa nenhum dano aos

pirênios, já que o endocarpo é muito resistente à penetração.

Dentre as espécies de aves observadas alimentando-se dos frutos, a que pode provocar

maiores danos aos pirênios seria a Forpus

xanthopterygius, que, devido ao bico duro, é capaz de quebrar o endocarpo dos pirênios. Por outro

lado Columba picazuro, C. cayannensis e Geotrygon violacea alimentam-se dos frutos e os ingerem, podendo provocar danos físicos e

reduzindo a germinação. Entretanto, estas espécies de aves, talvez sejam as mais eficientes na dispersão de sementes, mesmo com os danos

provocados, pois, voam longas distâncias e transportam os pirênios para novas á reas.

Quando se avaliam de forma conjunta os resultados das análises químicas dos frutos, estes

são pobres em nutrientes, confirmando-se a hipótese de dispersão dos frutos por aves generalistas. A forma não agrupada com que os frutos são dispersos, já que não mais de dois pirênios foram encontrados nas fezes, confirma as hipóteses levantadas por Shupp et al. (1989),

quanto aos mecanismos de dispersão de sementes

de espécies pioneiras, que contribuem para uma menor taxa de predação e consequentemente confere maior sucesso no estabelecimento de

plântulas.

Ecofisiologia da germinação

Os testes de germinação em diferentes temperaturas revelaram uma maior porcentagem

de plântulas germinadas quando se utilizaram frutos frescos à 25ºC em presença de luz (45%)

enquanto a menor porcentagem foi de 9,7% em

frutos secos à 25ºC com luz. Os tratamentos de fruto seco e fresco entre 20-30 ºC com luz tiveram

valores aproximados de 14,9 e 18,3% respectivamente, sem diferenciação de acordo com o Teste de Tukey à 5% de probabilidade (dados

não apresentados). Estes resultados diferem aos de Zanon et al. (1997) que testou a germinação de tarumã utilizando frutos frescos em temperaturas

de 20, 25 e 30 graus Celsius associados a quatro tipos de substrato: papel-toalha, papel mata -

borrão, areia e vermiculita. Com exceção do papel

toalha onde as melhores taxas de germinação se deram a 30 o C, todos os outros substratos obtiveram germinação significativa a 25o C.

Esta diferença de temperatura ideal para germinação nos dois estudos poderia ser atribuída ao tipo de substrato utilizado, porém Alves et al. (2006) testaram a germinação de tarumã em

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substratos micorrízicos e vermiculita além de um substrato controle composto de casca de arroz e areia. O tempo médio de germinação não diferiu

de forma significativa, sendo de 40 dias para

substrato controle e micorrizado e 41 dias para vermiculita. Neste estudo foi utilizada uma casa de

vegetação sem monitoramento da temperatura e nem o grau de exposição à luz.

Com relação às características das plântulas

estabelecidas a partir de frutos e pirênios, não houve significância estatística nas características

avaliadas. O comprimento médio do sistema radicular foi de 26,3 cm, o comprimento médio da

parte aérea foi de 9,1 cm e o número de folhas foi de 5 pares. O peso total de matéria seca encontrada

foi de 8,7 g e 12,2 g, para frutos e pirênios

respectivamente, após 114 dias de cultivo. As plântulas possuem um sistema radicular desenvolvido, possivelmente pela necessidade de

fixação em locais encharcados, sendo que mesmo os frutos que não sofreram remoção da polpa, por

aves ou pela água, germinaram, indicando que não há presença de substâncias inibidoras da germinação.

Estudos abordando a ecologia de espécies florestais nativas são importantes, pois for necem subsídios para programas de conservação e

recuperação de ecossistemas florestais. Os dados aqui apresentados contribuem para a tomada de decisões que levem a uma melhor produção de

mudas e manejo da espécie e sua utilização em programas de restauração de matas ciliares. Assim, observa-se que os frutos desta espécie tem um maior potencial germinativo quando alcançam o

estádio intermediário/maduro e maduro e um

menor teor de úmida do pirênio. A espécie é caracterizada como pioneira e os frutos permanecem viáveis no banco de sementes do solo

por um longo período e são dispersos, principalmente, por aves generalistas.

CONCLUSÕES

Os frutos de tarumã tendem a ganhar umidade durante a maturação e os pirênios a perder, sendo

que a predação que sofrem quando maduros, por larvas de Anastrepha sp., não afeta a germinação. Esta espécie é geralmente consumida e dispersa

por aves generalistas. Quando no solo, os pirênios podem permanecer viáveis por um período superior a doze meses, contribuindo para a

formação do banco de sementes do solo. Estas características reforçam o potencial desta espécie para uso em programas e projetos de restauração

de matas ciliares a partir da semeadura direta e por mudas.

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Recebido: 27/04 /2013 Received: 04/27 /2013

Aprovado: 10 /07/2013 Approved: 07/10 /2013

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