Barros, B. B. et al. 49

Vol. 3, N. 2: pp. 49-58, May, 2012 ISSN: 2179-4804

Journal of Biotechnology and Biodiversity

Adaptabilidade e estabilidade de genótipos de soja por meio de métodos uni e multivariado

Adaptability and stability of soybean genotypes using univariate and multivariate methods

Hélio Bandeira Barros1, Tuneo Sediyama2, Aurélio Vaz de Melo1, Rodrigo Ribeiro Fidelis 1

e Aristóteles Capone 1*

1Departamento de Agronomia; Universidade Federal do Tocantins; 77402-970; Gurupi - TO - Brasil.

2Departamento de Agronomia; Universidade Federal de Viçosa; 36570-000; Viçosa - MG - Brasil.

ABSTRACT

This work aimed to evaluate the productivity, stability and adaptability of 29 soy genotypes [Glycine max (L.) Merr.] in six environments at the state of Mato Grosso. The experiments were laid out in a complete randomized blocks scheme with four replicates. The tests were carried out at 2004/05 agricultural year at the municipalities of Rondonópolis, Campo Verde, Nova Brasilândia and Vera. The stability and adaptability were evaluated according to the methods developed by Annicchiarico (1992) and Centroid method (Rocha et al., 2005). The mean yielding

was 3054 kg ha-1 (Rondonópolis III) to 3746 kg ha-1 (Nova Brasilândia) with general mean among environments equal to 3292 kg ha-1. The lines SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280 and SL310 were classified by having the highest

yielding, adaptability and stability according to the methodologies developed by Annicchiarico and Centroid, which indicate a consistency among the methodologies used. The lines SL 1831, SL 627, SL 2280 and SL310 were recommended for a wide range of environmental conditions and the line SL 818 was recommended to specific conditions of favorable environments.

Key-words: Glycine max, productivity, stability, adaptability, uni-multivariate

INTRODUÇÃO

Para a produtividade de grãos, o fenótipo de soja a ser selecionado depende do genótipo, do ambiente e da interação do genótipo x ambiente. Essa interação ocorre devido à inconsistência do desempenho dos genótipos nos vários ambientes, refletindo nas diferentes respostas dos genótipos às

interação é chamada de interação simples, não acarretando maiores problemas. Entretanto, quando as cultivares possuem comportamento diverso, a interação é denominada complexa. Considerando um número maior de ambientes e de cultivares, a presença de interação complexa quase sempre indica a existência de cultivares

mudanças ambientais. Considerando as inúmeras especificamente adaptadas a ambientes

variações ambientais em que a soja é comumente submetida, é esperado que a interação genótipos x ambiente assuma papel fundamental na manifestação fenotípica, devendo, portanto, ser estimada e considerada no programa de melhoramento genético e na indicação de cultivares (Prado et al., 2001).

Segundo Ramalho et al. (1993), quando o comportamento de duas cultivares são concordantes em dois ambientes distintos, a

particulares, bem como de outras com adaptação mais ampla, porém sem alto potencial produtivo. Em um programa de melhoramento, a avaliação de genótipos visando à identificação e recomendação de materiais superiores em diferentes ambientes é considerada por muitos autores como uma das etapas mais importante, trabalhosa e onerosa (Silva e Duarte, 2006; Maia et al., 2006; Rocha et al., 2005; Nunes et al., 2002; Prado et al., 2001; Atroch et al., 2000; Farias et al., 1997). Isso

____________________________________________

Author for correspondence: aristotelescapone@hotmail.com

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https://doi.org/10.20873/jbb.uft.cemaf.v3n2.barros

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porque exige a condução de experimentos precisos e em uma grande amplitude de condições ambientais. Existem disponíveis na literatura vários métodos para estudo e quantificação da interação genótipo x ambiente: O método tradicional, (Plaisted e Peterson, 1959; Finlay e Wilkinson, 1963; Wricke, 1965; Eberhart e Russell, 1966; Perkins e Jinks, 1968; Freeman e Perkins, 1971; Taí, 1971; Verma et al., 1978; Silva e Barreto, 1986; Lin e Binns, 1988; Cruz et al., 1989; Annicchiarico, 1992). A diferença entre os métodos origina-se nos próprios conceitos de estabilidade e nos procedimentos biométricos empregados para medi-la.

Metodologias baseadas em componentes principais, embora rotineiramente utilizadas em programas de melhoramento em estudos de diversidade genética, são pouco utilizadas em estudos da interação genótipo x ambiente (Rocha et al., 2005). Neste trabalho, a metodologia baseada nos componentes principais denominada de Centróide, foi utilizada para representar a variação do desempenho dos genótipos nos ambientes em uma dispersão no plano com poucos eixos, o que permite uma análise simultânea do desempenho de um número elevado de genótipos

em virtude da facilidade de interpretação dos resultados.

O objetivo deste trabalho foi avaliar, com base na produtividade, na estabilidade e na adaptabilidade, 29 genótipos de soja sendo 25 linhagens de ciclo tardio e quatro cultivares, em seis ambientes, no Estado do Mato Grosso, através dos métodos de Annicchiarico (1992) e Centróide.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados os dados de produtividade de grãos (kg ha-1) dos ensaios finais de competição de genótipos de soja de ciclo tardio do Programa de Melhoramento Genético do Campo Experimental Bacuri e Sales Agropecuária, conduzidos em Mato Grosso, no ano agrícola de 2004/05, nas localidades de Campo Verde, Nova Brasilândia, Vera e Rondonópolis (Tabela 1). Em Rondonópolis foram conduzidos três ensaios, denominados Rondonópolis I, II e III, que corresponderam a diferentes épocas de semeadura. Foram avaliados 29 genótipos, dos quais quatro cultivares padrão (Emgopa 315; M-Soy 8914; Tucano e Uirapuru).

Tabela 1. Altitude, latitude, longitude e data de semeadura de ensaios de competição de linhagens de soja, de ciclo tardio, no Estado do Mato Grosso.

Ambiente Altitude (m) Latitude Longitude Data de semeadura

Rondonópolis I 227 16°28'15'' S 54°38'08'' W 07/11/2004

Rondonópolis II 227 16°28'15'' S 54°38'08'' W 29/11/2004

Rondonópolis III 227 16°28'15'' S 54°38'08'' W 19/12/2004

Nova Brasilândia 540 14°57'25'' S 54°57'56'' W 04/12/2004

Campo Verde 736 15°32'48'' S 55°10'08'' W 14/12/2004

Vera 383 12°18'21'' S 55º19'01'' W 17/11/2004

Os experimentos foram instalados no delineamento em blocos completos casualizados, com quatro repetições. As parcelas foram formadas por quatro fileiras de plantas (5 m), espaçadas em 0,45 m entre as fileiras. A área útil

da parcela foi de 3,6 m2, sendo colhidas as duas fileiras centrais, desprezando 0,5 m de bordadura nas extremidades.

Foram realizadas análises de variância individuais, seguindo-se uma análise de variância conjunta. A fim de implementar tais análises, utilizou-se o aplicativo computacional em genética e estatística - GENES (Cruz, 2001). Na análise conjunta, avaliou-se primeiramente a homogeneidade das

variâncias residuais dos experimentos (QMR), verificada pela razão entre o maior e menor quadrado médio residual dos ensaios (4,1252). Segundo Pimentel-Gomes (1990), as variâncias são consideradas homogêneas quando a relação entre o maior e o menor QMR é ≤ 7,0.

A análise de adaptabilidade e estabilidade fenotípica dos genótipos foi feita pelos seguintes métodos: Annicchiarico (1992) e Centróide.

O método de Annicchiarico (1992) baseia-se no chamado índice de confiança genotípico, estimado por: W ˆ Z ˆ , considerando-se

= µ − σ

( ) ( ) ( )

i g i g 1−α Z

1(g )

todos os ambientes, em que µˆi é a média

(g )

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percentual dos genótipos i; σˆ é o desvio padrão

Z1( g )

dos valores de Zij, associado ao i-ésimo genótipo;

Z é o percentil da função de distribuição

( )

1− α

normal padrão. O coeficiente de confiança adotado foi de 75%, ou seja, α = 0,25.

O método centróide, segundo Rocha et al. (2005), baseia-se na comparação de valores da distância cartesiana entre os genótipos e quatro referências ideais (ideótipos), criados com base nos dados experimentais para representar os genótipos de máxima adaptabilidade geral, máxima adaptabilidade específica a ambientes favoráveis ou desfavoráveis e os genótipos de mínima adaptabilidade. O ideótipo de máxima adaptabilidade geral é aquele que apresenta os valores máximos observados para todos os ambientes estudados (ideótipo I). Os ideótipos de máxima adaptabilidade específica são aqueles que apresentam máxima resposta em ambientes favoráveis e mínima resposta em ambientes desfavoráveis (ideótipo II) ou máxima resposta em ambientes desfavoráveis e mínima em ambientes favoráveis (ideótipo III). O ideótipo de mínima adaptabilidade é aquele que apresenta os menores valores em todos os ambientes estudados (ideótipo IV). Para utilização desse método, os ambientes foram classificados em favoráveis e desfavoráveis utilizando o índice ambiental como proposto por Finlay e Wilkinson, (1963).

1 1 I j = ∑Yij Y .. g i ag

Em que: Yij: média do genótipo i, no ambiente j;

Y.. : total das observações; a: número de ambientes; g: número de genótipos.

Após a classificação dos ambientes, foram criados pontos referenciais, os ideótipos de resposta diferenciada a ambientes favoráveis e desfavoráveis, visando à classificação dos outros pontos do gráfico considerando os valores de distância cartesiana entre os pontos a cada um dos quatro ideótipos. Uma medida de probabilidade espacial pode ser calculada utilizando o inverso da distância entre um tratamento aos quatro ideótipos:

 1 

 di 

P =

d (i, j ) 4

1



i =1 di

Em que: Pd , = probabilidade de apresentar

(i j )

padrão de estabilidade semelhante ao j-ésimo centróide; di = distância do i-ésimo ponto ao j- ésimo centróide.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os coeficientes de variação experimental variaram de 8,03 a 14,26% (Tabela 2), indicando precisão no controle das causas de variação de ordem sistemática dos ambientes experimentais, para a produtividade de grãos, que é uma característica quantitativa muito influenciada pelo ambiente. Segundo Carvalho et al. (2003), o coeficiente de variação máximo para produtividade de grãos de soja a campo é de 16%.

Tabela 2. Produtividade média de grãos (Y. ), variância residual (QMR) e coeficiente de variação

j

(CV) de ensaios de competição de linhagens de soja, de ciclo tardio, no Estado do Mato Grosso.

Ambiente Y. j QMR CV (%)

Rondonópolis I * 3122,4 106432,6344 10,45

Rondonópolis II 3155,8 136261,9230 11,70

Rondonópolis III 3053,9 115878,7830 11,15

Nova Brasilandia 3745,9 285335,2684 14,26

Campo Verde 3401,1 229429,6182 14,08

Vera 3274,9 69168,4747 8,03

Os efeitos da interação G x A apresentaram significância a 1% de probabilidade pelo teste F (Tabela 3). Todos os pares de ambientes apresentaram interação do tipo complexa (Tabela 4), ou seja, houve inconsistência na superioridade do genótipo com a variação ambiental, o que

dificulta a indicação das cultivares e linhagens (Cruz e Castoldi, 1991; Vencovsky e Barriga, 1992), pois não se pode, nessas circunstâncias, fazer uma recomendação uniforme para todos os locais, sem prejuízo considerável na produção obtida, relativamente à produção possível.

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Tabela 3. Análise conjunta de variância da produtividade de grãos (kg ha-1), de 29 genótipos de soja avaliados em seis ambientes, no Estado do Mato Grosso.

Fonte de variação GL Soma de quadrados Quadrado médio F Pr>F

Blocos/ambientes 18 6578080,2844 365448,9046 - -

Ambientes (A) 5 37381729,6681 7476345,9336 20,457 <0,000

Genótipos (G) 28 30873358,6178 1102619,9506 2,546 <0,000

Interação GxA 140 60621780,6235 433012,7187 2,756 <0,000

Erro médio 504 214625512,1594 157084,4503 - -

Tabela 4. Pares de ambientes, correlação entre ambientes e porcentagem da parte complexa resultante da decomposição da interação entre genótipos e pares de ambiente, segundo metodologia de Cruz e Castoldi (1991), nos ensaios de competição de linhagens de soja, no Estado do Mato Grosso.

Pares de ambientes Correlação Parte complexa da interação

Rondonópolis I e Rondonópolis II -0,1605 92,986

Rondonópolis I e Rondonópolis III 0,1345 72,117

Rondonópolis I e Nova Brasilândia -0,0715 81,903

Rondonópolis I e Campo Verde -0,1964 76,519

Rondonópolis I e Vera -0,0122 89,976

Rondonópolis II e Rondonópolis III 0,4026* 76,688

Rondonópolis II e Nova Brasilândia 0,2621 84,816

Rondonópolis II e Campo Verde 0,1389 85,668

Rondonópolis II e Vera 0,1002 94,166

Rondonópolis III e Nova Brasilândia 0,3207 82,316

Rondonópolis III e Campo Verde 0,2216 83,974

Rondonópolis III e Vera 0,3604 77,295

Nova Brasilândia e Campo Verde 0,3008 80,317

Nova Brasilândia e Vera 0,3173 78,956

Campo Verde e Vera 0,5351** 53,952

**, *: Significativo a 1 e 5% de probabilidade, pelo teste t.

A produtividade média de grãos variou de 3054 kg ha-1 (Rondonópolis III) a 3746 kg ha-1 (Nova

Brasilândia), com média geral entre os ambientes de 3292 kg ha-1 (Tabela 5). A maior produtividade observada foi obtida pela linhagem SL 818 (4333 kg ha-1), entretanto, a maior média em todos os

ambientes foi obtida pela linhagem SL 1831(3776 kg ha-1). A menor produtividade isolada foi obtida pela linhagem SL 216 (2211 kg ha-1), no entanto, a

menor produtividade média em todos os ambientes foi obtida pela cultivar padrão Tucano (2895 kg ha-1 ).

Tabela 5. Médias de produtividade de grãos de genótipos de soja de ciclo tardio em seis ambientes, em Mato Grosso*.

Genótipos

Ambientes

RON. I RON. II RON. III N. BRAS. C. VERDE VERA

Média

SL 1 2894 3240 2897 3339 2783 3092 3041

SL 6 2974 2927 3266 3032 3458 2888 3091

SL 33 3165 2534 3150 3728 3694 3797 3345

SL 64 3030 2957 2384 4088 2999 3182 3107

SL 112 3452 2816 3116 3065 3575 3482 3251

SL 213 3371 2947 3117 3287 2683 2971 3062

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SL 216 2949 3080 2211 3338 3684 3416 3113

SL 221 3077 2958 3304 3841 2945 3726 3309

SL 310 3100 3073 3253 4008 3995 3642 3512

SL 508 3719 3009 2981 4096 2515 2669 3165

SL 609 2929 3038 2777 3589 4039 2880 3208

SL 627 3432 3110 3328 4075 3946 3606 3583

SL 628 3143 3233 3644 4084 2924 3158 3364

SL 630 3241 2722 3046 3485 4201 3402 3350

SL 817 3075 3470 2902 3952 3405 3327 3355

SL 818 2999 2562 2719 4333 3720 3477 3302

SL 915 3133 3266 2714 2934 2502 2917 2911

SL 918 3096 3136 2898 4128 3623 3384 3377

SL 922 3151 3207 2603 3747 2977 3091 3129

SL 1683 2957 3005 3346 3984 3431 2955 3280

SL 1831 3311 3861 3576 3977 4134 3796 3776

SL 1923 3124 3783 3841 4220 3753 3447 3695

SL 2145 2886 3460 3144 4194 3622 3196 3417

SL 2253 3008 3863 2951 3866 4093 3150 3488

SL 2280 2952 3557 3607 3855 3551 3575 3516

EMGOPA 315 3088 3426 3240 3685 2881 3115 3239

M-SOY 8914 2956 2943 2765 3829 3346 3002 3140

TUCANO 3269 2847 2502 3016 2771 2967 2895

UIRAPURU 3072 3490 3284 3858 3384 3664 3459

Média 3122 3156 3054 3746 3401 3275 3292

* DMS Tukey a 5% de probabilidade entre ambientes = 798,623 kg ha-1 e entre genótipos = 1045,522 kg ha-1. C.V. (%) = 12,08.

As estimativas das médias dos genótipos e parâmetros de adaptabilidade e estabilidade das cultivares e linhagens obtidas pelos métodos de Annicchiarico (1992) e Centróide (Rocha et al., 2005), encontram-se na Tabela 6.

No método proposto por Annicchiarico, a estabilidade é medida pela superioridade do genótipo em relação à média de cada ambiente. O método baseia-se na estimação de um índice de confiança de um determinado genótipo mostrar comportamento relativamente superior.

Com base no índice de confiança ou de recomendação, pode-se indicar as linhagens: SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280, SL 310, SL 2253, SL 2145, SL 918 e SL 817, além da cultivar Uirapuru, considerando a sua produtividade em todos os ambientes, ou seja, adaptabilidade geral. Nos ambientes classificados como favoráveis

(Nova Brasilândia e Campo Verde) as linhagens SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280, SL 310, SL 2253, SL 2145, SL 918, SL 817, SL 630, SL 33, SL 1683, SL 818 e SL 609, além da cultivar Uirapuru, apresentaram comportamento mais estável e com probabilidade de apresentar produtividade superior a média de cada ambiente. Nos ambientes classificados como desfavoráveis (Rondonópolis I, II, II e Vera) destacaram-se as linhagens: SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280, SL 310, SL 628 e SL 221, alem da cultivar Uirapuru.

O conceito de adaptabilidade e estabilidade utilizado no método centróide diferencia dos demais, uma vez que o genótipo de máxima adaptação específica não é aquele que apresenta bom desempenho nos grupos de ambientes favoráveis ou desfavoráveis, mas sim o genótipo

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que apresenta valores máximos para determinado grupo de ambientes (favoráveis e desfavoráveis) e

mínimo para o outro conjunto (Rocha et al., 2005).

Tabela 6. Produtividade média (kg ha-1), Índice de confiança

W (geral, favorável e desfavorável) e a

i

classificação dos genótipos em um dos quatro grupos caracterizados pelos centróides e a probabilidade associada a sua classificação dos genótipos de soja de ciclo tardio, em Mato Grosso.

Annicchiarico (1992) 1/ Centróide 2/

Genótipos

Média

W

i

Geral

W fav.

i

W desf.

i

Grupo P (I) P (II)

P

(III)

P (IV)

SL 1831 3776 112,87 110,88 113,48 I 0,564 0,150 0,171 0,115

SL 1923 3695 109,75 111,05 109,43 I 0,477 0,176 0,207 0,140

SL 627 3583 107,17 111,00 105,35 I 0,395 0,242 0,197 0,166

SL 2280 3516 104,71 103,36 105,86 I 0,358 0.203 0.260 0.179

SL 310 3512 104,42 110,21 101,82 I 0,350 0.272 0.198 0.180

SL 2253 3488 102,47 108,45 99,33 I 0,331 0.276 0.204 0.189

UIRAPURU 3459 103,58 100,56 105,43 I 0,320 0.214 0.269 0.197

SL 2145 3417 101,46 108,16 98,62 I 0,307 0.287 0.207 0.200

SL 918 3377 100,72 107,64 98,23 II 0,276 0.318 0.196 0.210

SL 628 3364 99,22 93,04 101,97 III 0,275 0,218 0,284 0,223

SL 817 3355 100,33 101,75 99,52 I 0,276 0.268 0.230 0.226

SL 630 3350 98,24 102,37 96,14 II 0,266 0,319 0,198 0,217

SL 33 3345 98,21 102,31 96,14 II 0,267 0,281 0,222 0,230

SL 221 3309 97,87 91,48 101,08 III 0,250 0,219 0,287 0,243

SL 818 3302 95,99 111,31 90,21 II 0,223 0,404 0,164 0,208

SL 1683 3280 97,45 102,55 95,13 II 0,257 0,292 0,216 0,235

SL 112 3251 96,12 88,96 99,51 III 0,236 0,233 0,267 0,263

EMGOPA 315

3239

96,30

88,90

100,46

III

0,230 0,211 0,299 0,260

SL 609 3208 94,24 102,84 91,24 II 0,215 0,385 0,171 0,229

SL 508 3165 91,54 84,79 94,14 IV 0,212 0,240 0,249 0,298

M-SOY 8914 3140 93,91 99,54 92,04 II 0,200 0,327 0,189 0,283

SL 922 3129 92,99 91,35 93,46 IV 0,198 0,259 0,222 0,322

SL 216 3113 90,86 94,99 88,40 II 0,199 0,314 0,194 0,294

SL 64 3107 91,05 94,61 89,00 II 0,192 0,312 0,190 0,306

SL 6 3091 91,74 87,29 93,59 IV 0,208 0,242 0,244 0,305

SL 213 3062 90,62 81,60 96,35 IV 0,179 0,195 0,278 0,348

SL 1 3041 90,71 84,07 94,94 IV 0,180 0,207 0,256 0,357

SL 915 2911 85,73 75,03 93,36 IV 0,149 0,172 0,248 0,431

TUCANO 2895 85,71 80,80 89,27 IV 0,131 0,175 0,184 0,509

1/ Alfa = 0,25; Z(1-alfa) = 0,2734; 2/ Em que: Ideótipo I = Adaptabilidade geral (++); Ideótipo II = Adaptabilidade especifica a ambientes favoráveis (+-); Ideótipo III = Adaptabilidade específica a ambientes desfavoráveis (-+); Ideótipo IV = Pouco adaptado (--).

Após a classificação dos ambientes, os ideótipos estimados com base nos dados originais foram acrescidos na análise (Tabela 7). Uma vez estabelecidos os valores médios de cada ideótipo utilizou-se a análise de componentes principais envolvendo os 29 genótipos iniciais e quatro outros representativos, que na análise gráfica, representam os quatro centróides em torno dos

quais foi avaliada a dispersão dos demais. A obtenção dos autovalores via metodologia dos componentes principais, partindo dos dados originais incluídos os ideótipos, mostram que apenas dois componentes principais são suficientes para explicar proporções superiores a 67% da variação total (Tabela 8). Uma vez constatada a suficiência de dois autovalores na representação da

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variação total, a avaliação da posição dos genótipos pode ser feita por meio de gráficos

bidimensionais (Gráfico 1).

Tabela 7. Classificação dos ambientes utilizando o índice ambiental e estabelecimento dos ideótipos, calculados pelo método CENTRÓIDE, dos genótipos de soja de ciclo tardio, na safra 2004/2005 em Mato Grosso

Ambientes Média

Ij

Máximo Mínimo Ideótipo I

Ideótipo II

Ideótipo III

Ideótipo IV

Rond. I 3122 -169,97 3719 2886 3719 2886 3719 2886

Rond. II 3156 -136,54 3863 2534 3863 2534 3863 2534

Rond. III 3054 -238,41 3841 2211 3841 2211 3841 2211

N. Brás. 3746 453,58 4333 2934 4333 4333 2934 2934

C. Verde 3401 108,78 4201 2502 4201 4201 2502 2502

Vera 3275 -17,42 3797 2669 3797 2669 3797 2669

Em que: Ideótipo I = Adaptabilidade geral (++); Ideótipo II = Adaptabilidade especifica a ambientes favoráveis (+- ); Ideótipo III = Adaptabilidade específica a ambientes desfavoráveis (-+); Ideótipo IV = Pouco adaptado (--).

Tabela 8. Estimativa dos autovalores obtidos conforme a técnica de componentes principais e fração cumulativa da variância explicada por estes

Raiz Raiz (%) % Acumulada

2,52009 42,00152 42,00152

1,50599 25,09991 67,10144

0,70239 11,70657 78,80802

0,60079 10,01328 88,82131

0,37914 6,31913 95,14045

0,29157 4,85955 100,0

I – Adap. geral; II – Adap. esp. favorável; III – Adap. esp. desfavorável e IV – Pouco


Gráfico 1 - Dispersão gráfica dos escores em relação aos dois primeiros componentes principais obtidos da análise da produtividade de 29 genótipos de soja de ciclo tardio avaliados em seis ambientes. Os quatro pontos numerados com algarismos romanos representam os centróides. Genótipos: 1 - SL 1; 2 - SL 6; 3 - SL 33; 4 - SL 64; 5 - SL 112; 6 - SL 213; 7 - SL 216; 8 - SL 221; 9 - SL 310; 10 - SL 508; 11 - SL 609; 12 - SL 627; 13 - SL 628; 14 - SL 630; 15 - SL 817; 16 - SL 818; 17 - SL 915; 18 - SL 918; 19 - SL 922; 20 - SL

A análise visual de gráficos de componentes principais permite avaliar que os genótipos

apresentam distribuição heterogênea para a produtividade de grãos e que existem pontos de

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maior proximidade a todos os quatro centróides, possibilitando uma recomendação de genótipos de adaptabilidade geral ou recomendação de genótipos de adaptabilidade específica a um subgrupo de ambientes (Carvalho et al., 2002). As linhagens 21 (SL 1831) e 22 (SL 1923 foram classificadas como sendo de adaptabilidade geral por localizarem-se mais próximos do ideótipo I. Entretanto, a maioria dos pontos (genótipos) foram plotados na região central do gráfico, dificultando a classificação. Neste caso, utilizou-se o inverso do valor da distância entre um ponto aos quatro centróides como estimativa da confiabilidade de agrupamento dos genótipos (Rocha et al., 2005). Dessa maneira, um ponto eqüidistante aos quatro pontos referenciais apresenta valores de probabilidade de 25% de pertencer a qualquer um dos grupos e, portanto, quanto mais o valor de probabilidade diferir de 25%, maior será a certeza em concluir o agrupamento do genótipo. Segundo Rocha et al., (2005), valores de probabilidade próximos ou superiores a 50% indicam boa confiabilidade no agrupamento.

Na Tabela 6 são apresentadas às classificações dos genótipos a um dos quatro grupos e a probabilidade associada as suas classificações. Pelo método Centróide as linhagens SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280, SL 310, SL 2253, SL 2145 e SL 817 além da cultivar Uirapuru, foram classificadas com sendo de ampla adaptabilidade e estabilidade, destacando-se as linhagens SL 1831 e SL 1923. Para condições específicas de ambientes desfavoráveis, foram classificadas as linhagens SL 918, SL 630, SL 33, SL 818, SL 1683, SL 609, SL 216 e SL 64, além da cultivar M-Soy 8914. Já para condições específicas de ambientes desfavoráveis, foram classificadas por essa metodologia as linhagens SL 628, SL 221 e SL 112 e a cultivar Emgopa 315.

Observa-se no gráfico de dispersão (Gráfico 1) e na Tabela 6 uma tendência de aumento na média de produtividade dos genótipos de soja à medida que estes se aproximam do centróide I (adaptabilidade geral). De acordo com Rocha et al., (2005), quanto menor for a diferença entre um genótipo qualquer e o ideótipo I, menor será a diferença entre este e o genótipo de máximo desempenho em todos os ambientes, fazendo com que a adaptabilidade geral esteja necessariamente associada ao melhor desempenho.

Comparando a classificação da estabilidade fenotípica dos genótipos obtida pelo método

Centróide com classificação obtida pela metodologia proposta por Annicchiarico (1992), observa-se que houve coincidência na classificação dos genótipos para amplas condições ambientes (alta estabilidade e adaptabilidade geral) e para condições especificas de ambientes favoráveis e desfavoráveis.

CONCLUSÕES

Houve coerência na classificação da adaptabilidade e estabilidade dos genótipos pelas metodologias analisadas;

As linhagens de soja SL 1831, SL 627, SL 2280 e SL 310 apresentaram melhor comportamento para amplas condições ambientais e a linhagem SL 818 para condições específicas de ambientes favoráveis, tendo em vista a produtividade de grãos.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo apoio financeiro em forma de bolsa (Doutorado) e as Empresas Bacuri/Soygene e Sales Agropecuária pela condução dos ensaios de campo.

RESUMO

Este trabalho teve o objetivo de avaliar a produtividade, a estabilidade e a adaptabilidade de 29 genótipos de soja [Glycine max (L.) Merrill], em seis ambientes no Estado do Mato Grosso. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições. Os ensaios foram conduzidos no ano agrícola de 2004/05 nos municípios de Rondonópolis, Campo Verde, Nova Brasilândia e Vera. Para avaliação da adaptabilidade e estabilidade, utilizou-se os métodos de Annicchiarico (1992) e Centróide. O rendimento médio de grãos foi de

3054 kg ha-1 (Rondonópolis III) a 3746 kg ha-1 (Nova

Brasilândia), com média geral entre os ambientes de 3292 kg ha-1. Com base nas metodologias de

Annicchiarico e Centróide, as linhagens SL 1831, SL 1923, SL 627, SL 2280 e SL 310 foram classificadas como as mais produtivas, adaptadas e estáveis, havendo, portanto, coerência entre tais metodologias. Foram recomendadas as linhagens de soja SL 1831, SL 627, SL 2280 e SL 310 para amplas condições ambientais e a linhagem SL 818 para condições específicas de ambientes favoráveis, tendo em vista a produtividade de grãos.

Palavras-chave: Glycine max, Produtividade, estabilidade, adaptabilidade, uni-multivariada

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