Souza, S. A., et al.

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J. Biotec. Biodivers. v. 5, N.2: pp. 130-140 May 2014

INTRODUÇÃO

O feijão comum (Phaseolus vulgaris) é uma cultura de relevante importância no Brasil e no mundo, sendo rico em proteínas e desta forma, integrante básico da dieta alimentar de várias populações (Santi et al., 2006; Binotti et al. 2009; Posse et al., 2010).

No cenário mundial, o Brasil figura entre os maiores produtores de feijão (Fao, 2012), com produção total estimada para safra 2013/2014 de 3,5 milhões de toneladas de grãos, onde o Tocantins participa deste total com 32 mil toneladas (Conab, 2014).

Embora tenha como centro de origem a América (Freitas et al., 2006), o feijão comum teve seu cultivo difundido por todo o mundo. No Brasil é cultivado em todos os estados, sendo em alguns deles utilizadas três diferentes épocas de cultivo (Posse et al., 2010; Zucareli et al., 2010). No Tocantins o cultivo do feijoeiro é realizado em três safras ao longo do ano, sendo o único estado da região Norte a produzir feijão comum na época das “águas ” (Conab, 2014). De acordo com a Conab (2014), o cultivo do feijoeiro nas “águas ” (incluindo a cultura do feijão caupi) no estado representa somente 7,5% do total produzido enquanto que o cultivo na entressafra tem participação com 46,56%.

Apesar do estado do Tocantins apresentar potencial para o cultivo do feijoeiro na entressafra obtendo elevadas produtividades (Salgado et al., 2011; Salgado et al., 2012), na época das “águas ” este potencial ainda é baixo , devido a limitação imposta principalmente pela frequente incidência de doenças, favorecidas pelas condições climáticas da região (Costa-Coelho et al., 2012).

Dentre as diversas doenças incidentes no feijoeiro na região Norte , destaca-se a Mela, que é uma doença causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris (anamorfo Rhizoctonia solani Kühn) (Costa et al., 2008; Vieira Júnior et al., 2009). O T. cucumeris é um fungo de solo que além do feijoeiro comum infecta várias outras espécies cultivadas como a soja (Nechet et al., 2008) e o feijão-caupi (Nechet e Halfeld-Vieira, 2006a; Nechet e Halfeld-Vieira, 2007), além de plantas espontâneas como o Acanthospermum australe (Costa et al., 2007), fato este que dificulta ainda mais o controle dessa doença pois essa diversidade de hospedeiros favorece a manutenção de inóculos nas áreas de cultivos.

O ataque da mela dependendo da severidade, provoca o desfolhamento completo das plantas

(Costa et al., 2008), acarretando redução da produção. Fato comprovado por Costa (2007) que em estudo com cultivares de feijão comum, observou prejuízos na produtividade ocasionados pela doença.

Diante da dificuldade do controle da mela, tem sido recomendado um manejo integrado, onde sejam adotadas várias práticas, dentre elas, a utilização de cultivares que sejam resistentes (Costa, 2007; Barbosa e Gonzaga, 2012). De acordo com Nechet e Halfeld-Vieira (2007) e Vieira Júnior et al. (2009) a utilização de cultivares que apresentem alguma resistência , além de ser um método econômico para o produtor, é benéfico ao meio ambiente, pois não ocasionam risco de poluição como os agrotóxicos apresentam. Porém, mesmo com tamanha importância ainda são escassos estudos que avaliem o comportamento dos cultivares de feijão comum quanto à incidência e severidade da mela. Diante desta realidade, objetivou-se com este trabalho avaliar as características agronômicas e resistência de genótipos de feijão comum à mela no sul do estado do Tocantins , na safra 2011/2012.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na área Experimental da Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Gurupi, situada a 11° 43 ’ 45 ’ ’ de latitude sul e 49° 04 ’ 07 ’ ’ longitude oeste, a 280 m de altitude, na safra 2011/2012. De acordo com a Embrapa (2006) o solo é classificado como Latossolo Vermelho – Amarelo distrófico, com 737,9, 26,1 e 236,0 g kg de areia, silte e argila, respectivamente. Com o resultado da análise química do solo observou-se: pH em CaCl 2 = 5,33; M.O. (%) = 1,09; P (Mel) = 4,73 mg dm ; K = 17,29 mg dm ; Mg = 0,38

-3 -3

c c c

-3 -3

c c

dm e V% = 64,04.

O plantio foi realizado no dia 10 de dezembro de 2011, utilizando sistema de plantio convencional com uma aração, duas gradagens e o sulcamento do terreno. O experimento foi conduzido em delineamento experimental de blocos ao acaso com três repetições e 14 genótipos, pertencentes aos grupos carioca e preto, cedidos pela Embrapa Arroz e Feijão (Tabela 1). Cada parcela experimental foi constituída de 4 linhas de cultivo com 5 metros de comprimento, espaçadas de 0,45 m, visando obter estande final de 12 plantas por metro linear.